OMS pede fim do preconceito contra parteiras e critica falta de regulamentação

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Train midwives to a professional qualification in order to improve the health of Ugandan women who need it most. – IFMA – Partnerships

Com informações da ONU

Anualmente, mais de 300 mil gestantes morrem durante o parto e 2,7 milhões de recém-nascidos morrem durante os primeiros 28 dias de vida. Na linha de frente da saúde reprodutiva, estão profissionais que podem prevenir esses óbitos — as parteiras — quando recebem formação adequada e trabalham em ambientes livres de discriminação.

A conclusão é da primeira pesquisa global sobre a atuação das parteiras, publicada na quinta-feira (13) pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O relatório aponta que apesar do protagonismo dessas mulheres na atenção materna e neonatal, elas nem sempre recebem o reconhecimento e o apoio jurídico necessários para atender pacientes.

Com base em questionários preenchidos virtualmente por 2,4 mil profissionais de 93 países, a agência das Nações Unidas aponta que as parteiras têm seu trabalho limitado por relações de poder desiguais no interior dos sistemas de saúde, além de enfrentarem problemas como isolamento cultural, alojamentos inseguros e baixa remuneração.

Um quinto das entrevistadas dependem de outra fonte de renda para sobreviver, o que torna a rotina mais exaustiva. Muitas se dividem entre a maternidade e longas jornadas que, segundo as parteiras, afetam negativamente sua vida familiar. Mais de um terço afirmou que não tinha escolha a não ser deixar as crianças, menores de 14 anos, sozinhas durante o período em que trabalham.

Embora a maioria das entrevistadas sinta que são tratadas com respeito, muitas parteiras relataram assédio no trabalho, falta de segurança e medo de violência. Uma das conclusões da OMS é de que o desrespeito no ambiente profissional prejudica a autoestima das mulheres e sua capacidade de prestar cuidados de qualidade às mães e bebês em todo o mundo.

O levantamento do organismo internacional ressalta ainda que frequentemente não são fornecidas às parteiras nem educação adequada nem regulamentação. Poucas associações nacionais dessas trabalhadoras contam com o suporte de que precisam para se consolidarem como instituições de liderança.

De acordo com o relatório, a falta de investimentos reforça a disparidade entre homens e mulheres e também as relações desiguais de poder dentro do sistema de saúde. Nove em cada dez entrevistadas acham que o reconhecimento das parteiras pelos serviços de atendimento é importante para que transformações concretas aconteçam.

“É hora de reconhecer o papel essencial que as parteiras desempenham para manter mães e recém-nascidos vivos”, afirmou o diretor de Saúde Materna, Infantil e de Adolescentes da OMS, Anthony Costello. “Suas vozes foram ignoradas por muito tempo e muitas vezes tem sido negado a elas um lugar na mesa de tomada de decisão.”

O que precisa mudar

Financiado pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e elaborado a partir de uma parceria entre a OMS, a Confederação Internacional de Parteiras e White Ribbon Alliance, o relatório propõe recomendações às autoridades de saúde.

Para melhorar as condições de trabalho e a qualidade do cuidado para mulheres e recém-nascidos, profissionais precisam receber salários que reflitam o nível de suas competências e responsabilidades, bem como contar com sistemas de seguridade social e serviços de aconselhamento.

O documento também sugere a ampliação dos ambientes de ensino e a inclusão das demandas dessa categoria profissional em instâncias de decisão política sobre saúde materna e neonatal.