África em Conto: Kansera di no tchon

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Foto de Virgínia Maria Yunes em Bissau – Guiné-Bissau

Kansera di no tchon* 
Por Bernardo Alexandre Intipe, Por dentro da África  

No rompimento de dia e noite não havia ninguém para me acalmar.

O riacho de tristeza na minha face era minha mãe, minha tabanka que ninguém poderia impedir de transbordar de forma impetuosa e constante.

Os antigos diziam que há de chegar o dia em que não haverá rompimento de dia e noite, pois será nascer e pôr do sol.

Procuraram essa palavra “um” de ocidente ao oriente, de princípio ao derradeiro de suas vidas, mas não a encontraram.

Ela é artigo indefinido, com esperança de que há de chegar o dia em que será definido.

Décadas e décadas se passaram e a mesma cantiga ainda se canta *aonti i di Ntoni, i aos i di Djon.

Houve evasão das corças* à procura de melhor condição de sobrevivência. E os que lá permanecem, continuaram a deplorar pelas presentes situações vividas ainda hoje.

As que estão fora da *vila não pretendem voltar por motivos da lei de selva, pois só “vive tranquilamente os que têm poder”.

Os bandos estão sofrendo de miséria e muitos estão perdendo a esperança de vida porque a floresta já não faz parte de seu habitat e a flora tem cara de tristeza porque a poluição paira sobre ela.

Não há diálogo entre os animais por causa da soberania e singularidade do leão, *Si i pupa tudu tem ku kala.

A emancipação se torna uma decadência brutal da *vila e a floresta deixa de existir pela inundação do riacho de tristeza do seu povo.

* Kansera di no tchon – Dificuldade da nossa terra

*Corças – gazelas

*Aonti i di ntoni” significa literalmente, ontem era do Antônio. É uma linguagem figurativa que, normalmente se usa no contexto social guineense. Isso significa que, ontem (a época passada), estava no poder um governo no qual o povo confiou.

*Vila – Linguagem figurativa para “cidade”, está ligado ao abandono da cidade.

*”Aos i di Ntoni” hoje é dia de outro (governo), mas é a mesma situação que se vive, ou seja, nada mudou. “Si pupa tudu ten ku kala” quer dizer que quando o Leão ruge todo mundo fica quieto. Isto se refere ao detentor do poder (presidente de República, ou os chefes do governo). Essa linguagem figurativa ilustra a situação social guineense. 

*“Si i pupa tudu tem ku kala” (quando o leão ruge, todos ficam calados).