Episódio #10 – Concheiros da Guiné-Bissau: uma análise da paisagem arqueológica, com Bruno Pastre Máximo

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O arqueólogo brasileiro Bruno Pastre Máximo nos leva a descobrir os concheiros da Guiné Bissau na edição n.º 10 do Por Dentro da África Podcast. Um ritual antigo de acumulação de moluscos diversos como ostras, combi, ameijoas, búzios e outros que chegam a atingir vários metros de altura e têm diferentes propósitos e significados.

Na sua pesquisa, o doutorando da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) trabalha a paisagem arqueológica marítima da zona norte do país, com a comunidade Felupe e procura comparar a prática com o que também se faz no Brasil e já tem mais de cem anos de estudo dos chamados ‘sambaquis’.

Os concheiros não são uma paisagem exclusiva da Guiné Bissau, também existem no Senegal e os mais antigos estão na África do Sul. Ao mesmo tempo, que procura datá-los e conhecer as suas origens, o pesquisador procura mapear lugares de memória e responder outras perguntas sobre a função social dos mesmos para a comunidade.

“Na Guiné Bissau, ainda não temos pesquisas de escavações, mas provavelmente, não tem esse carácter funerário do Brasil, onde as populações indígenas faziam para homenagear seus mortos”, explica o arqueólogo.

A coleta de moluscos é, depois da produção do arroz, a 2.ª principal atividade económica da população. Máximo explica que alguns concheiros são simples lixeiras, outros servem de barreira para evitar o avanço do mar, outros como as ‘balobas’ são locais sagrados onde mulheres fazem os seus rituais e, outros ainda, servem de material de construção de casas e estradas.

A pesquisa de Máximo é interdisciplinar, dialoga com a Biologia, a Antropologia e até a Genética e o próximo passo é realizar uma sondagem arqueológica para colher e identificar amostras de fitólitos de arroz africano “tentando criar uma cronologia da domesticação e da variabilidade biológica”. Segundo o arqueólogo, o arroz africano sofreu modificações por parte do homem, embora tenha pouca produtividade, adapta-se tanto à água doce como salgada e poderá por isso, ser o alimento que salvará a humanidade no futuro diante de um cenário de aumento do nível dos oceanos como consequência do aquecimento global.

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