Por Fernando Guelengue, Por dentro da África

Luanda – O ridículo tomou conta do país porque nem mesmo na igreja as pessoas se sentem seguras. Pela primeira vez na vida, no meio de todos esses anos que vivo uma vida real e outra na fantasia de leituras dos fenômenos universais, percebi a dimensão de um acontecimento social ou político quando se coloca a espiritualidade em causa. Opine no fórum abaixo! 

Centenas de angolanos despidos de medo encontravam-se reunidos pelo quarto dia consecutivo numa vigília na igreja Sagrada Família, em Luanda, para exigir a libertação dos 15 ativistas presos desde o dia 20 de junho acusados de golpe de Estado.

O domingo é o dia do Senhor para a grande maioria das igrejas angolanas. Mas neste último, parece que o horário de muitos fiéis se estendeu para dar impulso à causa da liberdade e democracia no país, por meio da insistente atividade que já está a tirar o sono de milhares de elementos que têm a bajulação como as suas formas de sobrevivência e condição de ascensão social.

Eles foram intimidados! É uma verdade e digo que não preciso dizer quem os protagonizou. Não digo mesmo porque todos sabemos quem são. Quem mais senão eu e você mesmo que aceitamos as regras do ordens superiores? Sabemos que uns não querem mesmo deixar de ser o jornalista pivô dos noticiários da televisão, o comandante das operações de uma luandina cidade como a nossa, o chefe dos serviços de investigação criminal de Luanda, o responsável dos serviços de inteligência do governo e se calhar mesmo o governador ou ministro deste país que mais crescimento teve nos últimos anos.

Um amigo de algum tempo questionou-me quantas pessoas seriam necessárias para efetuar um golpe de Estado. No meu rápido raciocínio e fruto das minhas leituras sobre governação e queda dos grandes ditadores, respondi que apenas uma pessoa. E pronto! Não deu para prolongar a conversa para acrescentar que todo o acontecimento começa de uma mente.

Mas isso não significa que o golpe de Estado seja mais pensado por pessoas mais distantes do que as próximas, porque apenas consegue desequilibrar um palácio que domina os meandros da casa. Sempre imaginei que chegaríamos tão longe quando se trata de sensibilidade da parte dos principais decisores do país.

Mas nunca imaginei que teria tanto cordão de agentes da corporação no interior de uma igreja, não para proteger o presidente em caso do mesmo estar no interior para adoração, mas para impedir que os defensores de uma justiça e liberdade não realizem os seus cultos em gesto de vigília. Impedir que as pessoas clamem por justiça divina, impedir que as pessoas orem. Assim, também estão a criar ou procurar artigos de leis fantasmas para incriminar quem ore pela liberdade dos “golpistas”?

Ou já possuem analistas preparados para defender o indefensável? Quando orar se transforma em crime, estamos perante uma situação em que o país está sem rumo em relação à própria Constituição da República que considera laico o Estado, no qual existe uma separação de poder entre as denominações religiosas e partidos políticos. E nesta hora onde estão os bispos, arcebispos, pastores, evangelistas, diáconos e crentes que acreditam numa transformação por meio do uso da palavra de Deus? Onde está àqueles que acreditam que a oração tem poder?

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