África do Sul: As contradições sobre o real estado de saúde de Nelson Mandela

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Arquivo - Nelson Mandela Foundation Natalia da Luz – Por dentro da África 

Rio – O homem que ajudou a levar a democracia para o país segregado por décadas para que todos os seus cidadãos, independentemente de sua cor, pudessem participar será lembrado para sempre. A importância de Nelson Mandela não se limita às fronteiras da África do Sul. Ela se expande por toda a África, por todo o mundo, como contribuição louvável para a humanidade. Por conta de todo esse peso e esperança, muitas contradições vêm sendo expostas sobre o seu real estado de saúde.

De acordo com uma fonte de Por dentro da África, que trabalha no Med-Clinic Heart, em Pretoria, o ex-presidente sul-africano teria falecido na terça-feira, dia 25 de junho. Na ocasião, os médicos anunciaram a paralisação total dos rins e pulmões, deixando nas mãos da família a decisão de desligar os equipamentos. Parte da família, influenciada pelo governo do país, segundo a fonte sul-africana, teria pedido para manter os aparelhos ligados, postergando o anúncio devido, inclusive, à chegada do presidente dos Estados Unidos Barack Obama à África do Sul.

Na quinta-feira, uma das filhas do ex-presidente, Makaziwe, disse, em entrevista, que o pai continuava muito mal. Diferentemente dela o presidente da África do Sul Jacob Zuma anunciou que Mandela havia apresentado alguma melhora, porém ainda estava em estado crítico. A contradições nos depoimentos aumentam a suspeita de que o real estado de saúde do líder antiapartheid vem sendo escondido.

Arquivo - Nelson Mandela FoundationA mídia internacional questiona a veracidade das declarações e já informa a probabilidade (como o The Guardian Express) de o respirador, que mantém Mandela vivo, estar ligado desde domingo, dia 23 de junho. Por dentro da África mantém a posição do seu informante que defende que Mandela teria falecido antes de o respirador ser ligado, e destaca alguns dos fatores que estariam camuflando o estado de saúde. O encontro com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama (que deixou o país nesta segunda-feira), seria o principal deles.

Fonte em hospital diz que país se prepara para despedida de Mandela

– O CAN (Congresso Nacional Africano) está fazendo uma espécie de campanha na porta do hospital. Zuma deixou de viajar a Moçambique para vir ao hospital. Ele disse que o estado de saúde de Mandela melhorou, mas quem acompanha de perto sabe que isso é uma desculpa para favorecer interesses políticos. É lamentável o que estão fazendo com essa situação. Só estão pensando nos negócios… – contou o informante de Pretoria.

Viagem de Obama à África

A primeira viagem à África do atual mandato de Barack Obama é de extremo interesse para empresários dos Estados Unidos e governos africanos, que nutrem a expectativa de assinar novos contratos, mas também de receber ajuda do político que é filho de queniano. Nos Estados Unidos, a visita de sete dias está sendo muito criticada pelos gastos, que devem chegar a US$100 milhões, segundo os cálculos do The Washington Post.

Agenda do Obama na África Durante uma semana, o roteiro de Obama se dividiu entre Senegal, África do Sul e Tanzânia (onde ele acaba de desembarcar) e inclui mais de mil pessoas em uma gigantesca comitiva que usará 56 veículos, sendo 14 limusines e três caminhões, todos à prova de bala. Será a missão mais cara de um representante da Casa Branca ao continente africano. Em 1998, Bill Clinton foi duramente criticado por gastar US$42 milhões de dólares dos cofres públicos.

Em sua primeira visita ao continente africano, realizada em 2009, com uma breve passagem por Gana, ele discursou para o povo dizendo que os seus líderes africanos deveriam erguer instituições fortes para servir aos africanos e combater os conflitos internos. Desta vez, ele leva toda a família para uma temporada que incluiria até safari. Um navio com estrutura de hospital estaria offshore para atender qualquer membro da equipe em caso de emergência.

No Senegal desde quarta-feira, Obama visitou a Casa dos Escravos, um forte construído no final do século 18 na ilha de Gorée, e o líder do país Macky Mall. Na África do Sul, a sua agenda contemplou reuniões em Johanesburgo, encontro com o presidente Jacob Zuma e visita à Robben Island, ilha onde Nelson Mandela passou 18 anos preso. Na Tanzânia, seus compromissos serão com o presidente Jakaya Kikwete, além da visita ao Memorial Dar as Salaam.

Obama na ÁfricaPara muitos especialistas, a viagem de Obama também tem relação com a forte presença chinesa no continente. O país se tornou o parceiro mais importante da África. No último ano, segundo informações do governo chinês, o volume de negócios entre China e África foi de US$200 bilhões, vinte vezes o valor negociado em 2000, 12 anos atrás. Desde 2009, a África é a parceira numero 1 do país de 1.3 bilhão de habitantes, que necessita de matérias-primas para alimentar as suas indústrias. A pressão se tornou maior quando o presidente chinês Xi Junping decidiu visitar o continente em março.

Negócios na África do Sul

Em comunicado à imprensa, Jeffery Nemeth, responsável pela Câmara de Comércio dos Estados Unidos na África do Sul, disse que a visita de Obama é vital para construir um relacionamento mais forte com a África. De janeiro a abril deste ano, de acordo com o governo dos Estados Unidos, a balança comercial teve superávit de US$144 milhões (com 2,982 bilhões em exportação e 2,837 bilhões em importação). O país é a maior economia do continente. Rico em ouro, platina, urânio, titânio e diamante, seus recursos são estimados em US$2, 5 trilhões de dólares.

Há, atualmente, de acordo com o governo sul-africano, cerca de 600 companhias dos Estados Unidos trabalhando na África do Sul. A visita também serviria para reforçar o diálogo em áreas como saúde, educação, agricultura, investimento, energia e segurança nuclear. No sábado, segundo comunicado do governo sul-africano, a família de Nelson Mandela não teria autorizado a visita de Obama ao ex-líder antiapartheid. Uma pergunta que muitos sul-africanos fazem é: se o estado dele é estável, por que desestimular a entrada de Obama?

Disputa entre a família sobre o sepultamento de Mandela

Mandla no Mandela Foundation - Foto: Natalia da Luz Em entrevista ao jornal sul-africano Sunday Times, os líderes locais de Qunu, localizado na província do Cabo Oriental, onde Nelson Mandela cresceu, disseram que a “alma do maior líder africano não está em paz” e que os seus ancestrais estão descontentes com as disputas familiares.

Os restos mortais de seus três filhos: Makaziwe, morta em 1948 aos nove meses de idade, Thembekile, morto em 1969 aos 24 anos, e Magkatho, falecido em 2005 aos 55 – que estavam enterrados em Qunu, foram transferidos para Mvezo, a cidade natal de Mandela. Grande parte da família exigiu que Nkosi Zwelivelile ou Mandla, o neto que é chefe de Mvezo e que havia feito a transferência sem o consentimento de todos da família, enviasse os restos mortais para o local anterior, onde o próprio Mandela anunciou que gostaria de ser enterrado.

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 Por dentro da África 

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  1. Em princípio, Mandela já não é apenas um “Património da sua estricta família, nem dos Sul-africanos”. Mas sim “Património da Humanidade”. Espero que o Governo Sul-africano consiga um dia levar este projecto avante.
    Sobre a possível morte de MADIBA, é importante perceber o seguinte:
    (1) Não faria sentido que Obama encontrasse o país em luto. Ele trazia com ele não só importantes discussões políticas, mas sobretudo DINHEIRO. Ora, os governos precisam SEMPRE de dinheiro para sobreviver! Pois, ainda que MADIBA morresse humanamente, clinicamente eram possível dominar a informação que ainda esteja vivo (com auxilio dos aparelhos);
    2) O próprio governo Sul-africano sabe como e quando ele quer apresentar MADIBA a sua sociedade, não como um vivo entre os Vivos, mas sim um Pós-vivo” entre os Vitos. Isto é: (i) prepara o seu povo sobre a pós-existência daquele que, durante a sua existência, tudo deu para igualdade dos direitos e os direitos civis; (ii) criar representações de MADIBA quando este entrar na Eternidade. Talvez percebamos isto tudo, e desculpemos as contrariedades sobre MADIBA.

    “Toda vida alcança a morte”, diz um proverbio Kongo. Mas a “morte/Yôngo, é a nossa existência enquanto modelo da vida”. Quer dizer, os mortes/yôngo que são “bons” são modelo para os vivos. Os mortos maus (que nunca foram enterrados) nunca foram lembrados! Lembraremos de MADIBA como aquele “deus que veio salvar-nos de apartheid”.