“Temos que investir no esporte porque ele pode mudar o nosso país”, diz atleta da Guiné-Bissau

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Guiné-Bissau – Divulgação

Natalia da Luz, Por dentro da África

Rio – Na costa oeste da África, um país de língua portuguesa tem como esportes fortes a luta livre, o atletismo e o judô, modalidades que trouxeram cinco atletas para representar a Guiné-Bissau nas Olimpíadas do Rio. O país estreou nos Jogos Olímpicos em Atlanta, em 1996, e participou de todas as edições seguintes. O Por dentro da África conversou com alguns deles na Vila dos Atletas!

Taciana – Arquivo pessoal

Taciana Lima é brasileira, vive em Portugal e compete pela Guiné-Bissau. Esse multiculturalismo começou depois que ela descobriu um laço de sangue com o país africano. Há 4 anos, ela conheceu o pai, que é da Guiné-Bissau, e logo depois decidiu competir pelo país. Campeã pela equipe brasileira durante muitos anos, ela foi abraçada pelo país africano.

Desde que se naturalizou, em 2013, Taciana Lima conquistou o tetracampeonato africano. Apenas neste ano, ela disputou oito competições no circuito internacional e faturou um bronze no Grand Prix de Budapeste.

Taciana – Arquivo Pessoal

– Quando eu fui lá, eu me deparei com uma cultura esportiva diferente da cultura esportiva do Brasil e eu acreditava que poderia fazer algo pelo povo e fazer com que as pessoas conhecessem mais o judô – disse a atleta de 32 anos, que pratica a modalidade desde os 11 anos.

-Foi uma Olimpíada muito especial representando a Guiné no Brasil, com minha mãe na arquibancada.Cheguei aqui como a 10ª melhor do mundo. Infelizmente, isso não aconteceu. Quando se entra no tatame, as coisas são diferentes.

Renato (chefe da missão) e Bedopassa, da categoria 97 kg – Divulgação

A equipe da Guiné-Bissau desembarcou no Rio de Janeiro com 5 atletas, mas a sua comitiva completa tem 20 pessoas. A treinadora de luta livre veio acompanhando seus dois atletas para representar um esporte que é difundido no país.

-Na Guiné-Bissau, a população gosta de luta, atletismo, handebol, vôlei, basquete. mas A luta predomina, é o esporte que mais ganha, lembrando que o futebol está muito bom porque acabamos de nos qualificar para a Copa Africana das Nações – contou Leopoldina Dayves, completando que durante o período da Olimpíada treinou seus atletas todos os dias pela manhã e tarde.

Augusto Midana (azul) de Guinea-Bissau pelea con el venezolano Ricardo Antonio Roberty Moreno (rojo) en su combate de Estilo libre 74 kg.EFE/JIM HOLLANDER
Augusto Midana (azul) de Guinea-Bissau EFE/JIM HOLLANDER

O melhor disso, disse Silva, é que eles estão ganhando a experiência. Um de nossos atletas já esteve em Pequim, Londres e agora veio para a sua terceira Olimpíada. Quanto aos outros atletas, eles vão crescer bastante…

A treinadora Leopoldina Ross

Dois dos atletas de Silva que vieram ao Rio são Augusto Midana, tricampeão africano na categoria de 74kg, e Budapassa Djodé, da categoria de 95kg. Por conta de uma lesão, Bedopassa Djoudé não conseguiu competir neste domingo.

-Somos poucos, mas pouco para o país o que estamos fazendo é muito. Todos os dias, desde o início dos Jogos, recebemos mensagens muito bonitas e encorajadoras. Acho que com todo esse apoio, as crianças vão sim se interessar mais pelos esportes – completou Dayves.

Guiné-Bissau

Guiné-Bissau - Registro da leitora Fotógrafa Virginia Maria Yunes — em Guiné-Bissau.
Guiné-Bissau – Registro da leitora Fotógrafa Virginia Maria Yunes — em Guiné-Bissau.

A Guiné-Bissau faz fronteira com o Senegal e Guiné Conacri. Apenas 14% da população de 1,6 milhões de habitantes fala português, língua oficial durante o período colonial, mas a maioria fala crioulo.

Antes da chegada dos portugueses e até o século XVII, grande parte do território integrava o reino de Gabu, que se tornou independente após o declínio do Império Mali (1230 – 1600). Além do Mali e da Guiné Bissau, o Império também envolvia o Senegal, Guiné, Burkina Faso e Gâmbia. (Fonte: Wikipedia)

A colonização teve início em 1558, com a fundação da Vila de Cacheu. A princípio, somente as margens dos rios e o litoral foram exploradas. Mais tarde, no século XIX, os colonizadores partiram para o interior.

A Vila de Bissau foi fundada em 1697, como base militar. Posteriormente elevada à cidade, tornou-se a capital colonial, estatuto que manteve após a independência de Portugal.

Jéssica Inchude – Arquivo pessoal

Aos 20 anos, Jessica Inchude, do arremesso de peso, estreou nos Jogos Olímpicos aqui no Rio e pode ver seus ídolos de perto como a neozelandesa Valéria Adams, que apesar de ser a favorita em sua prova, ficou com a medalha de prata.

-Eu poderia ter subido mais dois lugares, mas como estava nervosa, não consegui. Foi uma experiência única. Para os próximos jogos, quero ficar entre as dez primeiras e sei que vou conseguir – disse a atleta que vive em Lisboa.

A atleta, que treina todos os dias das 16 até as 21h, contou que sempre gostou muito de praticar esportes.

-Eu gostava de correr, de jogar, mas nunca tinha pensado em fazer atletismo. Um dia eu estava correndo na praça, e um senhor disse que eu tinha muito talento para correr. Depois, eu fui para o atletismo, mas acabei seguindo com os lançamentos.

Holder da Silva nasceu na Guiné-Bissau, mas já na infância foi para o Senegal, depois para Lisboa. Além de torneios regionais e internacionais, Holder já representou a Guiné-Bissau em três olimpíadas.

-Cada Olimpíada tem o seu saber especial. Para estar aqui, foi uma caminhada muito longa. Finalmente, conseguimos, e foi uma vitória – disse o atleta, que esteve muitas vezes com Bolt, seu ídolo maior, durante toda a Olimpíada.

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Holder acompanhou cada quebra de recorde e lembrou que isso é uma das coisas que fazem do atletismo uma modalidade tão fantástica. Muitos desses recordes vieram da costa oriental da África, do Quênia, que terminou os Jogos Olímpicos com seis medalhas de ouro.

-Eu gostaria de pedir para que a Guiné-Bissau investisse mais nos Jogos Olímpicos. O esporte pode mudar aquele país, as pessoas tem que investir mais para mudar o nosso país. Força, e viva o esporte nacional e o nosso atletismo.