Sudanês de 71 anos dá aula para jovens refugiados na Etiópia

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Com informações da ONU

Alnur Burtel já é um senhor de 71 anos, mas se lembra com clareza do quanto seus professores universitários no Sudão — seu país de origem — o estimularam a estudar para ter um futuro melhor. Vivendo num campo de refugiados há 11 meses na Etiópia, ele espera hoje desempenhar um papel semelhante ao de seus mestres para outros sudaneses vítimas de deslocamento forçado.

“A educação é essencial para a vida e para o desenvolvimento”, diz Burtel em frente ao Light Language Centre, o centro de ensino construído por ele mesmo e aberto em janeiro de 2016 em Sherkole, acampamento no oeste da Etiópia.

O docente dá aulas de inglês e educação cívica para adolescentes e jovens adultos refugiados — que representam 15% da população do campo — que não tiveram acesso a educação adequada nem a formação profissional. Para Burtel, quem não estuda está desperdiçando suas vidas.

“É hora de resolver essa situação. Esses jovens são o futuro de nossos países”, alerta. Quando ainda vivia no Sudão, ele dava aulas de inglês nas escolas locais e na Universidade de Omdurman. “Eu pensava: vamos alimentar essas mentes. Se eu conseguir mudar a vida de pelo menos um deles, já vai fazer diferença.”

Ao lado de outros dois professores, Burtel leva educação para 130 alunos. O aprendizado não se resume apenas ao ensino de línguas estrangeiras, mas inclui também noções sobre direito e sobre o que o sudanês descreve como “coexistência pacífica”. “Espero que os jovens transmitam mensagens de tolerância e que a paz prevaleça em nossos conflituosos países”, explica.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) ajuda a gerir o campo de Sherkole, onde vivem cerca de 11,2 mil estrangeiros que tiveram de deixar seus países. A maioria vem do Sudão.

Apesar dos esforços para oferecer capacitação aos refugiados, o organismo internacional não tem recursos suficientes. O valor solicitado pela agência da ONU à Etiópia foi suprido apenas em 35%, o que gerou um déficit de 181 milhões de dólares no orçamento. A educação é colocada em segundo plano para dar aos deslocados forçados condições básicas de moradia, alimentação e saúde.

A sala de aula de Burtel recebeu dois quadros-negros e giz do ACNUR e da entidade do governo etíope dedicada a assistir refugiados.