Lisboa: Manifestantes pedem justiça para cabo-verdiano assassinado

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Marcha em Lisboa pede justiça para Luis Giovani – Por dentro da África

Natalia da Luz, Por dentro da África

Lisboa – Com pedidos de justiça, manifestantes tomaram as ruas de Lisboa, neste sábado (11).  Luis Giovani dos Santos, um cabo-verdiano de 21 anos, morreu no dia 31 de dezembro em decorrência de uma brutal agressão provocada por um grupo de 15 jovens na cidade de Bragança. Até hoje, as autoridades não identificaram ou prenderam os culpados.

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“Poderia ter sido o meu neto. Fico imaginando a dor da mãe, tudo o que ela fez para que o filho pudesse estar em outro país estudando, realizando sonhos. Isso dói demais em mim. Foi tão brutal, tão triste. Como é possível que ainda não tenham prendido os culpados?”, perguntou dona Rosário Rocha, cabo-verdiana que vive há 25 anos em Lisboa.

Dona Rosário Rocha – Por dentro da África

Rosário foi uma das milhares de pessoas que foram às ruas da cidade em um ato convocado a partir das redes sociais em memória de Giovani, que havia chegado em Portugal há dois meses para cursar Design de Jogos Digitais no Instituto Politécnico de Bragança. O protesto ocorreu simultaneamente em outras cidades de Portugal e de outros países, como França e Cabo Verde.

Luis Giovani dos Santos – Arquivo Pessoal

Em 21 de dezembro, após um desentendimento em um bar de Bragança, Giovani e três amigos cabo-verdianos foram agredidos por um grupo que portava ‘cintos, ferro e paus’, segundo as testemunhas. Mesmo feridos, os três conseguiram fugir, mas Giovani teria ficado inconsciente após um forte golpe na cabeça. O estudante recebeu cuidados médicos e foi encaminhado para o Hospital do Porto, onde ficou internado por 10 dias. O corpo de Giovani ainda está em Portugal, à espera do traslado.

Marcha pede justiça para Giovani, jovem assassinado em Bragança – Por dentro da África

“É inaceitável acontecer isso e não ver os culpados presos. Na mesma semana, um crime envolvendo três guineenses e um português foi rapidamente solucionado e os africanos encontrados e presos. No caso do nosso irmão Giovani, houve um silêncio, uma negligência. As autoridades e a mídia só lembraram do caso depois das nossas manifestações. O que aconteceu com ele poderia ter acontecido com outros de nós aqui. Tenho a mesma idade, também cheguei há dois meses”, contou Valtinho Semedo, cabo-verdiano que se mudou para Portugal para fazer mestrado.

Marcha pede justiça para Giovani, jovem assassinado em Bragança – Por dentro da África

Cobertos com bandeiras de Cabo Verde, muitos participantes iniciaram o ato em silêncio no Terreiro do Paço, onde acenderam velas e deixaram flores. Depois, conforme caminhavam pela cidade, passaram a cantar e a pedir justiça erguendo cartazes com frases anti-racistas como: ‘Quem acredita no mito do Portugal não racista?’

Grande parte dos presentes vestia uma camisa com o rosto de Giovani e exibia a inscrição #justiçaparaogiovani no peito ou em folhas de papel. Uma morna (gênero musical de Cabo Verde) feita em homenagem a Giovani foi cantada.

Os cabo-verdianos Valtinho Semedo e Silmara de Jesus durante a marcha em Lisboa- Por dentro da África

Durante o ato, era predominante a presença de cabo-verdianos e de manifestantes de origem africana, especialmente dos países de língua portuguesa. Alguns deles esticaram  bandeiras de Angola e Guiné-Bissau.

“Essa marcha trouxe muita gente, não só cabo-verdianos. Foi importante ver essa união. Queremos a África unida para poder defender nossos direitos. Queremos direitos iguais para todos. Não só para os portugueses, para os que se dizem brancos, mas para nós que somos pretos. Lutamos todos os dias por uma vida melhor. Saímos da nossa terra e não viemos para cá para pedir nada. Estamos aqui para trabalhar, queremos dignidade, somos um povo de luta”, disse Silmara de Jesus, estudante e trabalhadora.

Marcha em Lisboa- Por dentro da África