Conheça quatro mulheres que fizeram e fazem a diferença na África

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Gallmann no Kenya - Foto: Divulgação- Gallmann.org
Gallmann no Kenya – Foto: Divulgação- Gallmann.org

Andre Araújo, Por dentro da África

(Africanista e estudante de Serviço Social) 

Nairobi, Quênia – No Dia Internacional da Mulher, o Por dentro da África listou quatro dentre milhares de mulheres que se destacaram e se destacam em prol das causas africanas. Essas personalidades tiveram suas vidas marcadas por lutas e conquistaram o reconhecimento por conta de um belo trabalho, principalmente, na área de conservação ambiental. 

KUKI GALLMANN

Nascida na Itália, ela adotou o Quênia como sua casa e ganhou destaque ao longo dos anos devido a uma história marcada pelas perdas na família (marido e filho) e conquistas. É uma escritora de sucesso, ativista ambiental e conservacionista. Gallmann, hoje com 70 anos, está envolvida em diversos projetos sociais como: Great Rift Valey Trust (incentivo à arte produzida por moradores de favelas quenianas), Laikipia Highlands Game (Esportes para a Paz) e o Earth Festival (ligado às causas ambientais).

Gallmann no Kenya - Foto: Divulgação- Gallmann.org
Gallmann no Kenya – Foto: Divulgação- Gallmann.org

Em 2010, ela fundou o Prayers for Earth, na intenção de envolver tribos locais na conservação do meio ambiente como forma de subsistência. Em 2011, ela adquiriu e doou 300 hectares de terra para um projeto intitulado “Land of Hope” (Terra da Esperança) também em Laikipia, onde ela reside.

No local, foi criado um centro para mulheres e jovens, uma escola de enfermagem e um programa de alimentação. Kuki Gallmann, ao longo de sua trajetória, já recebeu 13 prêmios nas mais diversas categorias sempre relacionada às causas africanas. Sua vida foi levada às telas de cinema no filme “África dos meus sonhos” tendo a atriz Kim Basinger interpretando Kuki.

A conservacionaista possui um lodge na selva na região de Laikipia, no Quênia. Hospedar-se lá é uma boa forma de conhecer essa mulher admirável e, ao mesmo tempo, colaborar com os projetos que a mesma apóia.

PRINCESA ELIZABETH OF TORO

Elisabeth Toro em editorial de moda - Divulgação
Elisabeth Toro em editorial de moda – Divulgação

Nascida no ano de 1936, em Uganda, a princesa de família nobre tem uma história de vida impressionante! Foi advogada, top model, ministra das Relações Exteriores de Uganda… Durante o governo do ditador Idi Amin, ela foi atriz  e embaixadora da ONU e, praticamente, uma pioneira em quase todos os segmentos em que trabalhou.

Ela está entre as três únicas mulheres africanas a cursar Direito na renomada Universidade de Cambridge, na Inglaterra, nos anos 60. Tornou-se uma top model de sucesso (ainda nos anos 60) estampando editoriais de moda importantes como a Vogue britânica, que dedicou quatro páginas a ela! Foi a primeira modelo negra a ser capa da revista Happer’s Bazaar, em 1969.

Elisabeth Toro em editorial de moda - Divulgação
Elisabeth Toro em editorial de moda – Divulgação

Nesse período, viveu entre Milão, Paris, Nova York e Londres. No início dos anos 70, ela abandonou as passarelas e aceitou o convite para atuar como Ministra das Relações Exteriores de Uganda, sendo a primeira mulher no cargo. Elizabeth realizou um trabalho tão primoroso na política que despertou a ira do ditador egocêntrico Idi Amin, que a demitiu do cargo durante um comunicado na TV e, em seguida, tentou assassiná-la. Avisada, ela fugiu de Uganda cruzando o país a pé disfarçada de mochileira até o Quênia.

De volta aos Estados Unidos, ela teve aulas de teatro e atuou em alguns filmes rodados na Nigéria (um deles teve origem na obra do escritor nigeriano Chinua Achebe), mas o reconhecimento como atriz só veio mesmo em 1984, quando atuou no  “Sheena – A rainha da Selva”.

Em 1986, ela assumiu o cargo de Embaixadora da ONU, tendo promovido o primeiro encontro entre um presidente africano (ugandense) e um americano, em 1987. Dois anos depois, ela renunciou ao cargo por conta de problemas pessoais relacionado à morte do marido em um acidente aéreo.

A partir de então, ela passou a promover causas africanas em programas de TV, tendo participado do famoso talk show da apresentadora Oprah Winfrey em 1989. Atualmente, já aposentada, dedica-se a trabalhos de caridade e vive em Uganda. Possui duas autobiografias, sendo as duas best-sellers.

JOAN ROOT 

Foto: Wild Film History - Alan Root
Foto: Wild Film History – Alan Root

Ativista, conservacionista e cineasta! Essas eram apenas três das muitas facetas de Joan Root, que dedicou a sua vida à África. Root foi casada com o consagrado diretor de documentários Allan Root e juntos fizeram inúmeros filmes premiados, tendo usado técnicas avançadas para a época na tentativa de obter as melhores imagens. Um dos seus documentários faturou um Oscar em 1979.

Foram os Root’s que apresentaram os gorilas para a pesquisadora Diane Fossey e proporcionaram um inesquecível passeio de balão pela selva para primeira dama na época: Jacqueline Kennedy. Em 1981, após o divórcio de Allan, ela decidiu viver no Quênia, em uma casa simples às margens do lago Naivasha e passou a se dedicar à conservação do lago, apoiando pesquisas e monitoramento das condições ambientais do local.

Nesta época, ela fundou uma força-tarefa impedindo a pesca no lago, algo que enfureceu os moradores da região. Joan também feriu os interesses de uma empresa de floricultura às margens do lago  e se tornou uma pessoa odiada por tentar conter o desequilíbrio ambiental que ocorria na região. Devido à atuação dessa empresa, milhares de quenianos saíram de suas cidades rumo ao lago Naivasha na tentativa de conseguir emprego. Por consequência, favelas foram formadas na região, gerando miséria e criminalidade.

Foto: Wild Film History - Alan Root
Foto: Wild Film History – Alan Root

Além da preservação do lago, Root mantinha uma espécie de centro de reabilitação em casa, cuidando de animais órfãos e feridos. Mesmo com ameaças partindo de todos os lados, ela não se intimidou e seguiu adiante com o seu trabalho.

Em 2006, às vésperas de completar 70 anos, Joan Root foi assassinada em casa por quatro homens munidos de Ak 47. Os suspeitos nunca foram punidos pela morte da ativista que pagou um preço alto ao defender uma região ameaçada pelos interesses econômicos.

Sua história deu origem ao livro “Na Africa Selvagem”, ao documentário “Assassinato no Lago” e há planos de se tornar um filme tendo Julia Roberts no papel de Joan Root!

DAPHNE SHELDRICK 

Daphene Sheldrick - Divulgação
Daphene Sheldrick – Divulgação

Ela pode ser considerada a mãe dos elefantes, devido ao seu trabalho de reabilitação e reintrodução de elefantes órfãos à vida selvagem no Quênia. Nascida em 1934, Daphne possui mais de 30 anos dedicados a essa causa, tendo iniciado sua carreira como co-diretora do Tsavo National Park, em 1976. Além dos elefantes, ela cuidou e reintegrou à vida selvagem rinocerontes, búfalos, zebras, antílopes, javalis e pássaros.

Conhecida mundialmente pelo seu trabalho, ela tornou-se a primeira pessoa a criar uma fórmula especial de leite fundamental para esses elefantes e rinocerontes órfãos. Sem esse leite, provavelmente, muitos teriam morrido. Devido ao seu trabalho admirável, Daphene tem recebido prêmios ao redor do mundo, condecorações e está incluída entre as 500 pessoas mais importantes da humanidade.

Dentre as homenagens recebidas, duas tiveram destaque, uma delas pelo governo do Quênia e outra pela BBC. Em 2005, foi citada como uma das 35 pessoas no mundo que fizeram a diferença em relação à vida selvagem.

Foto de Samantha Beattie no Orfanato dos Elefantes
Foto de Samantha Beattie no Orfanato dos Elefantes

A fundação David Sheldrick Wildlife Trust foi fundada em 1977, em Nairóbi, e até a presente data continua realizando esse trabalho, tendo reabilitado centenas de animais que teriam um destino triste se não fosse o empenho de Daphene. Qualquer pessoa pode visitar a fundação, tendo, inclusive, a oportunidade de tocar nos elefantes e, ao mesmo tempo, colaborar com o projeto.

Daphne foi tema do documentário “Born to be Wild”, tem alguns livros publicados e seria tema de uma cinebiografia, no qual Nicole Kidman faria o seu papel, porém alguns jornais divulgaram na época que Sheldrick foi contra ao adestramento de animais para participar do filme.

Por dentro da África