Guiné-Bissau: Um pouco da cultura balanta

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balanta - virginia
Aldeia balanta – Foto de Virginia Maria Yunes

Por Bernardo Alexandre Intipe, Por dentro da África

Este artigo tem como proposta apresentar brevemente a composição familiar dos balantas perante usos e costumes, indicando alguns aspectos linguísticos, assim como o sobrenome de um balanta.

O nome abalanta (que significa os que refutam) foi atribuído pelos bmindes (mandigas) por volta do século XV. Os balantas atribuíram o nome de brassé ou brassá dependendo de variação linguística.

Na etnia balanta, existem duas grandes correntes chamadas Kuntoé e Nhacra. Dentro do grupo dos balantas, em geral, há outros ramos chamados de balanta patch e nagha. Pode ser que a origem de balanta patch tenha relação com uma tabanka (aldeia) cujo nome é patch, porém não residem só nesta aldeia como os nagha.

“Por tradição oral, vive entre os balantas da Região de Nhacra, di-los descendentes duma ligação de mulheres-papeis com homens-biafadas levada a efeito nas localidades de Dugal e Nague, primitivas povoações do território. E, em verdade, Dugal significa em Biafada, ″hóspede″; enquanto que a palavra ″Biafada″, em língua balanta, designa o irmão, filho do mesmo pai. (SIMÕES, londerset. Babel Negra, Comércio do Porto: 1935).

Segundo Ttchogue Rith, 2013, Balanta Kuntoé está na margem direita do rio Mansoa que atravessa a Guiné-Bissau de centro para oeste. Balanta Nhacra está localizado na margem esquerda do rio Mansoa. Concentra-se na zona sul do país concretamente na região de Tombali que possui quatro grandes setores (Catió ″Capital″, Cacine, Bedanda e Quebo), com maior parte da população balanta porque emigram de norte para oeste e de Oeste para o Sul.

O fator primordial da emigração de Balanta Nhagra para o sul do país ocorre por conta da procura de melhor solo para agricultura de arroz. Os balantas eram os maiores produtores de arroz na Guiné-Bissau. Isso não significa que os Kuntoés não migrem. Na verdade, eles migram menos em relação aos Nhacras.

Os Kuntoés se concentram na zona norte do país junto com outros povos que pertencem a outras etnias (mandingas, mancanhas, etc) e praticam a mesma atividade de agricultura como sendo Balanta ou Nhacras.

Aldeia balanta – Foto de Virginia Maria Yunes

COMPOSIÇÃO DA FAMÍLIA

A família é uma das bases em qualquer sociedade. Sempre digo que não há sociedade sem indivíduo e não há indivíduo sem família. Em qualquer região do país, os balantas formam um laço familiar forte. Nas zonas rurais do país sempre há muitas tabankas e moranças onde vemos fortes laços familiares entre si e a vizinhança.

Tabanka é um conjunto de moranças formadas de diferentes famílias que residem num determinado espaço ou região.

Morança é um conjunto de casas familiares que é rodeada por um círculo ou em forma triangular, cujos moradores são da mesma família paternal ou descendentes de um avô.

E suas identidades são impetuosamente preservadas e estabelecidas por um determinado nome atribuído pelo pai. Com o nome dado pelo pai, o filho passa a se identificar como sendo da tal morança.

A morança possui o nome do pai (responsável pela família) de modo que os filhos, netos e bisnetos possuam o mesmo sobrenome de seus pais (nome do avô). Com exceção das filhas.

Alqueia (significa não há alguém, ou alguém não está) é um nome próprio. A palavra Na é a preposição de. Pois a sua função é a ligação de nome Alqueia para o sobrenome Iana, que é o nome da família pertencente (que significa, por favor).

As filhas não possuem o sobrenome dos irmãos porque elas serão casadas pelas outras pessoas que não fazem parte de família real (Na Iana). Por isso, não podem adquirir o nome familiar.

Quando as mães casam não permanecem na casa dos pais. Elas são chamadas de padida em crioulo (guineense). Em balanta, chamamos bdé, que possui significado (nascida).

Porém, a preposição Na não é comum para todo balanta porque na zona de norte da região de Oio, os Balantas Kuntoé e Nhacra que ali habitam não são identificados diretamente através da preposição acompanhada de sobrenome, mostrando que são pertencentes de tal morança. Como no caso de preposição Na.

Podemos constatar que o nome Womna (que significa comam) que provém do verbo “comer”, é o nome próprio, e Yufa (que significa abutre) é sobrenome. Esse nome Womna Yufa vem acompanhado de sobrenome sem a intervenção da preposição Na, que deveria ser o elo entre os dois substantivos. Entretanto, podemos afirmar que nem todo balanta possui essa preposição que faz a ligação entre nome e sobrenome.

Ambos têm algo em comum que é a identificação de indivíduo a partir de sobrenome que os caracterizam como filho de tal morança.

Referências

RITH, Ttchoge; 2013. Blog Intelectuais Balantas na Diáspora

SIMOES, Landerset., 1935. Babel negra: etnografia, arte e cultura dos indígenas da Guiné

*Bernardo Alexandre Intipe é estudante de letras e língua portuguesa pela Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) Campus dos Malês.

Conheça o trabalho da fotógrafa Virgínia Maria Yunes

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

2 COMMENTS

  1. Brigado pelo seu elogio irmão, na verdade nas leituras que eu fiz não encontrei nada sobre balanta mané e isso terei que a estudar para ver se pode encaixar nos ramos que citei. Sem esquecer, os balantas mané converteram as islamismo e maior parte deles se identificam como muçulmanos, mas isso não é a razão principal de não abordar sobre eles, doravante procurarei falar sobre eles.
    brigado pela sua contribuição, abraços!

  2. Muito bom trabalho porque fizeste como refere o titulo UM POUCO DA CULTUTA BALANTA mas falta porque os balantas nao se limita só com
    4 ramos sao muito mais , os balantas mané, os de Gandja q tem como centro BEGENE e mais
    e porque estes grupos e como sao feitos estes localização.
    Falaremos mais sobre estes historias
    Obrigado