
Por Jorge Filholini e Vinicius de Andrade – Por dentro da África
São Paulo – Os escritores cabo-verdianos Corsino Fortes (Pão e Fonema, 1974), Danny Spínola (Os Avatares das ilhas, 2008), Fátima Bettencourt (Um certo olhar…, 2001) e Vera Duarte (poeta e Ministra da Educação), estiveram no Brasil para falar sobre as interculturalidades e intertextualidades entre Cabo Verde e Brasil.
Após uma escala na 14ª Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto, os escritores foram convidados para participar do evento“Diálogos Atlânticos: Cabo Verde e Brasil”, que aconteceu última segunda-feira (19), no Anfiteatro da Reitoria da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Os autores cabo-verdianos palestraram para um grande público presente e também concederam uma entrevista ao Livre Opinião – Ideias em Debate.
Para Jorge Valentim, professor de literaturas portuguesas e africanas da UFSCar que organizou o evento, a participação dos autores nos “Diálogos Atlânticos” forneceu uma maior “visibilidade, não apenas à disciplina, mas ao nosso objeto de pesquisa que é o das Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, especificamente de Cabo Verde. O evento também foi uma espécie de resposta, porque as pessoas acham que a África está tão longe de nós, e os quatro escritores vieram provar não pela fala de professores, mas pela fala de escritores, que o Brasil está mais próximo da África do que podemos imaginar”.
Durante o bate-papo com o Livre Opinião, os quatro escritores falaram sobre a literatura de Cabo Verde, as relações entre a literatura e a cultura do país com o Brasil e também sobre a realidade da literatura cabo-verdiana no mundo. Confira abaixo:
Livre Opinião – Ideias em Debate: Qual o lugar da literatura de Cabo Verde no mundo?
Fátima Bettencourt: Este lugar adquiriu muita importância, pois já temos um prêmio Camões, portanto não é uma brincadeira. É uma coisa séria e que vem desde o século 17, mas tem-se conseguido pouco, pois as prioridades do país são sempre outras. Porque a terra é pobre, produz muito pouco quase nada. Então, o momento de fazer da literatura uma prioridade, eu não sei quando é que vai ser não [risos]. Mas nós vamos tentando engatinhar, fazer algumas coisas aos poucos, como este evento aqui na universidade. Também já estivemos há algum tempo na Universidade de São Paulo, pois lá há muita leitura das obras cabo-verdianas, as literaturas cabo-verdianas estão sendo muito estudadas, tem-se feito várias teses de mestrado e doutoramento em toda a obra dos cabo-verdianos, então isso dá-nos alguma animação. Mas é uma coisa muito pontual e que ainda não tem muita expressão.
Danny Spínola: Nós, em Cabo Verde, temos ainda muitos constrangimentos. Temos um espaço enorme em termos de pertencimento, que são os países de língua portuguesa, onde nós poderíamos estar inseridos, termos nossas obras neste espaço. Mas acontece que não temos grandes editoras e não temos distribuição dos livros, então o que nós editamos em Cabo Verde acaba ficando apenas em Cabo Verde, não temos essa opção de distribuição. Em Portugal, por exemplo, não há possibilidade de se fazer essa distribuição porque é muito caro, assim, é preciso ter este intercambio de fato [“Diálogos Atlânticos: Cabo Verde e Brasil”], porque são encontros como este que dão-nos a possibilidade de estarmos, por exemplo, aqui em São Carlos, fazendo a divulgação. Mas é uma coisa ainda mais no nível de convite e não uma atividade programada que nos dê essa oportunidade de levar nossa literatura para fora, então temos ainda estes tipos de constrangimentos.
Mesmo internamente, temos ainda um grande problema, pois não existe um mercado que possibilite-nos sermos editados e que nos possibilite vivermos de nossas próprias literaturas e, só então, termos a possibilidade de sair do país e mostrar nosso trabalho. Existem sim algumas editoras que vão até Cabo Verde, ou que editam ainda escritores cabo-verdianos, mas não têm uma visão ampla e acabam por escolher apenas alguns, cerceando a possibilidade de novos autores surgirem com força no mundo. Outro problema grave é que não temos críticos literários, críticos de arte… então, vês que há ainda várias questões, vários problemas em termos críticos e também comerciais, que nos impedem de termos, de fato, uma importância e uma grande visibilidade.

Vera Duarte: A literatura cabo-verdiana tem alguma visibilidade, sobretudo no mundo, porque é uma literatura escrita essencialmente em português, embora a gente já tenha alguns autores que são traduzidos em outras línguas, por exemplo, em francês e inglês. Os países africanos de língua portuguesa, além do Brasil e Portugal, têm na literatura alguma repercussão, mas devo dizer também que apesar de não haver ainda um grande movimento de tradução das obras de outros autores cabo-verdianos, muitos outros autores têm seus livros traduzidos em várias línguas. Além disso, o que se mais verifica é a presença e participação de escritores cabo-verdianos em vários países, seja da África, da América, até mesmo de países asiáticos, onde vão falar um pouco da literatura cabo-verdiana e da escrita dos escritores cabo-verdianos. Isso que é essencial para o conhecimento da literatura de Cabo Verde.
Corsino Fortes: Completando com o que disse a Vera Duarte, não há dúvida nenhuma que depois do aparecimento do Prêmio Camões a nossa expressão literária ganhou muita visibilidade e, notadamente, nas universidades também, principalmente as brasileiras. Vários escritores cabo-verdianos já são objetos de teses de mestrado e doutorado, mesmo assim o que também se deu certa visibilidade da obra foi devido a qualidade estética, abordagem e temática. Nós temos como referência na área acadêmica a professora Simone Caputo, que tem trabalhado há cerca de 40 anos sobre literatura cabo-verdiana e servindo como orientadora com muitos mestrandos e doutorandos. Não há dúvida nenhuma que entre nós isso tudo tem ajudado na divulgação das obras de Cabo Verde.
Notadamente, somos um país pacífico, não têm grandes problemas, mas de qualquer forma a literatura cabo-verdiana é muito querida e respeitada na sua qualidade estética e também no seu conteúdo. Nós esperamos que medidas políticas e diplomáticas tenham a intenção à expressão literária que se realiza hoje nos cinco países africanos de língua portuguesa, para que os livros não tenham a mesma carga fiscal que tem outros produtos, que haja uma livre circulação nas alfândegas e aeroportos. Por exemplo, nós trouxemos livros, alguns ficaram por motivos disso, é óbvio que tudo isso é um problema que tem que ser compreendido, conscientizado para que todos os países possam de fato abrir para que tudo que seja expressão cultural tenha um trânsito livre.
LOID: Quais são as principais influências da literatura brasileira nas obras cabo-verdianas? Qual a ligação que vocês têm com a literatura do Brasil?
Fátima Bettencourt: Bom, há alguns autores que não gostam que se fale em influências, mas eu, particularmente, gosto de falar. Porque, na verdade, não há nada de novo, tudo se vai aprendendo com os outros e com aquilo que já foi feito. Vamos dando nosso cunho pessoal e acho que foi isso que aconteceu conosco. Não posso garantir isso cem por cento porque não estava naquela época [risos], mas quando se começou lá o movimento Claridoso, por exemplo, que veio dar um grande impulso à literatura realmente cabo-verdiana, eles tinham lido sim o José Lins do Rego, o Graciliano Ramos, Jorge Amado e toda essa gente, então não é nenhuma asneira a gente ver que dali pegaram alguma coisa e elaboraram de outra maneira, deram suas próprias formas. Existem trabalhos feitos por investigadores que fazem uma comparação, um paralelismo, entre Manuel Lopes e Graciliano Ramos, por exemplo, principalmente no que concerne ao cunho social daquelas literaturas.
Então, há sim senhor alguma influência. Ninguém está aqui pensando que isso diminui o valor do que é escrito, pelo contrário, eu sei que o principal divulgador dos Claridosos, que era o Doutor Baltazar Lopes da Silva, nunca escondeu que lia estes livros. Ele tinha até uma frase muito bonita que dizia algo como “Caiu em nossas mãos fraternas e fraternalmente juntas os livros dos fulanos e cicranos e etc”, quer dizer, ele considerava aquilo uma coisa boa, uma coisa boa que estava acontecendo. E foi assim com a primeira leva dos escritores Claridosos, claro que depois vieram novos autores que adotaram outras técnicas, outras filosofias, literaturas e mesmo políticas, portanto, outros tipos de escrita, outras formas, outros posicionamentos e assim é. Neste assunto acredito que possa falar melhor meu amigo Danny, pois é de sua geração que estamos a falar [risos].

Danny Spínola: Pois é, sempre houve alguma intertextualidade entre escritores cabo-verdianos e também brasileiros, inclusive até na música houve sempre alguma influencia, uma dinâmica enorme em termos de encontros entre diálogos entre Brasil e Cabo Verde. No caso da literatura – vou falar de mim, pois é evidente que há diversos outros pensamentos entre a minha geração –, tivemos sempre muito mais contato também com os escritores universais, não somente os escritores cabo-verdianos, portugueses e brasileiros. Evidentemente que, em alguma altura, os cabo-verdianos não poderiam mais ficar confinados aos portugueses porque não tinham muita possibilidade de ter acesso a outros escritores – embora alguns tenham tido.
Mas, em meu caso, se eu fosse ter uma influência seria de Clarice Lispector, porque eu adoro Clarice [risos]. Mas é evidente que já convivi com vários outros escritores como Jorge Amado, Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, Mário de Andrade – especialmente Macunaíma – e também vários outros poetas, desde os mais clássicos até os contemporâneos. Mas não creio que eu tenha tido influência direta deles, se calhar, talvez até tenha tido alguma, porém inconsciente. Conscientemente, acho que, se fosse ter, seria a Clarice Lispector, embora eu também goste de Cecília Meireles, Rachel de Queiroz e etc.

Fátima Bettencourt: Eu acho o seguinte: toda influência é inconsciente, senão, seria plágio [risos na mesa].
Danny Spínola: Mas não é nem que se vá fazer um plágio, pode sim haver uma influência consciente e que te vai motivar a escrever algo, como um força, como um ponto de partida, mas não realmente como plágio. Mas claro, é certo que, de se conviver com outros escritores, há frases e versos que te marcam e vão sair em tua literatura de alguma maneira, e isto é até uma coisa muito bonita.
Vera Duarte: A gente tem falado um pouco disso na palestra. Essa influência foi desde o início quando começou a ter os primeiros traços da literatura na metade do século XIX, 1850 para ser mais exato, que a primeira geração cabo-verdiana já cita escritores brasileiros como Olavo Bilac, Castro Alves, José de Alencar. Portanto, desde essa primeira geração já tínhamos vestígios de escritores cabo-verdianos terem lido os escritores brasileiros através dos livros e revistas que chegavam a Cabo Verde, sobretudo os que vinham da Europa do Norte e do Brasil e Argentina.
Depois do advento da geração modernista com a revista Claridade, esse diálogo entre Brasil e Cabo Verde se tornou mais explícito na medida em que são os próprios autores da revista Claridade que dizem que encontram nos escritores brasileiros a influência. Autores como José Lins do Rêgo, Jorge Amado, Manuel Bandeira, enfim são diversas as obras que os escritores cabo-verdianos encontraram certa cumplicidade e acima de tudo as situações sociais que verificavam existir em Cabo Verde e que fizeram muito de suas escritas um manifesto, os claridosos fincaram os pés no chão e falaram sobre as realidades do país.
Portanto, eu acho que os modernistas brasileiros tiveram um papel bastante influente para os escritores cabo-verdianos, falando genericamente. Atualmente, as influências se tornaram mais diversificadas.

Corsino Fortes: Bom, tenho muito pouco a acrescentar do que já disse a nossa querida Vera Duarte. Na verdade, se o Movimento Claridoso apareceu em Cabo Verde e foi, podemos dizer, essencialmente a primeira tomada de consciência da posse da terra na sua expressão literária, mas também em sua relevância uma tomada de consciência política, não tão expressa porque o ambiente político não era agradável, qualquer reação contra o sistema a pessoa era presa. Não há dúvida nenhuma que esse movimento que aconteceu aqui no Brasil em 1922, que transformou o que chamam de neorrealismo chegou a Cabo Verde e foi apropriado, sendo a primeira independência em relação aos cânones literários da Metrópole [Portugal].
Já para o Brasil era a posse da terra, porque teve a independência, mas os cânones ainda eram europeus. Para Cabo Verde era também no sentido de fincar os pés no chão e termos a consciência do quem nós somos. Tudo bem, somos portugueses, mas temos uma especificidade própria. Neste sentido, começamos a buscar a nossa identidade que já vinha sendo traçada com os Nativistas, que ganhou mais vigor com os claridosos e que depois com a geração de [Amílcar Lopes] Cabral assumem a sua totalidade, uns como combatente da liberdade da pátria outros na resistência cultural até chegar de fato na independência.
Bastou a luta política no sentido de conscientização, e não há dúvida nenhuma que Brasil e Cabo Verde estavam sempre ligados, até porque existia um orgulho muito grande do Brasil independente e havia consciência disso, por isso que Cabo Verde se afastava do continente africano e começou a ter mais relações com o Brasil. Preciso dizer que houve sempre entre cabo-verdianos e brasileiros, mesmo os portugueses de esquerda, uma consciência política que ajudaram na luta não contra Portugal e sim contra a ditadura salazarista.
LOID: Para vocês como está a literatura cabo-verdiana nos dias de hoje? Há publicações, divulgações, produções e circulações?
Fátima Bettencourt: Bom, na época da independência nós tivemos uma paralisação. Foi um momento de dizer: vamos colocar a caneta no lugar e arregaçar as mangas para resolver a situação do país, só depois vamos voltar a escrever. Tivemos esta paragem, pois foi uma mudança muito grande. Imagine ter uma bandeira e de repente subir outra, isto mexe com as pessoas, com todas as estruturas emocionais… com tudo!
Então foi isso que aconteceu, tivemos esta paragem, mas depois veio tudo de novo com muito vigor, uma vontade de escrever, de inovar, enfim, de se fazer coisas novas em literatura. Eu, particularmente, só ando a escrever contos e crônicas, tenho evitado a escrita de textos muito longos. Mas já têm me cobrado e essa brincadeira de não escrever textos longos tem também seus negativos. Enfim, há coisas que eu gosto de deixar escapar, deixar para trás, gosto de textos enxutos, sem muitos anseios.
Danny Spínola: Bom, nós não tivemos algo da mesma razão que vocês tiveram, como a Semana de Arte Moderna, não? Algo propositadamente realizado para que houvesse uma revolução em termos de escrita, em termos do ideário poético, artístico, literário. Para nós, as coisas foram acontecendo, tivemos vários e vários escritores, vários momentos. Tivemos também algumas rupturas entre alguma geração e outra em termos temáticos e até estéticos, além de termos como marco o período claridoso, que começa com a Revista Claridade e que inaugura a moderna poesia cabo-verdiana com oversolivrismo, deixando para trás os cânones clássicos das rimas e métricas, isso tudo na década de 1930.

Após a independência, como disse a Fátima, houve um momento mesmo de blackout, porque os escritores tinham já a tendência para ter uma poesia constestatória da situação colonial em que vivíamos, portanto, nós, no combate àquela imposição colonial, acabamos tendo uma paragem mesmo, não havia um motivo – no sentido de uma inspiração – claro para se escrever naquele momento de luta. Mas, depois, com o tempo, vieram sim novos escritores e mesmo os escritores que foram da Claridade e que começaram a abordar novas temáticas, novas linguagens. Além, é claro, daqueles escritores que foram da Geração Claridosa e que também são desta geração. Assim, na literatura, passamos a ter outras realidades: se antes a realidade era de seca, fome, de opressão e dessa opressão surgia a força da literatura como contestação, como reivindicação, passamos a ter outras preocupações para representar. Agora temos os espaços urbanos com muitos problemas que trazem a enfermidade ao homem, problemas psíquicos, de segurança, criminalidade, etc. Quer dizer, são outros, são novos tempos.
Portanto, temos aí uma nova geração que é ampla, heterogênea, com escritores formados por várias leituras do mundo. Há uma heterogeneidade imensa de estilo, de tema e de abordagem do mundo. Aliás, ao contrário de muitas literaturas do mundo, nós não temos escolas, ou correntes, literárias. Cada um vai escrevendo à sua maneira, cada um vai fazendo a sua literatura, consoante ao diálogo que tem com outros escritores, com o mundo.
Vera Duarte: Basicamente não podemos nos esquecer de uma coisa, nós somos um país com uma população pequena, então o público leitor não é muito, isto faz com que as edições e tiragens não possam ser de grande dimensão. Neste sentido, precisaríamos de muito mais apoio, mais possibilidades de edições, porque os nossos livros esgotam e ficam muitas vezes sem reedições. Enfim, precisaria de mais apoio, portanto, continuamos a escrever e o caminho está sendo bem trilhado.
Corsino Fortes: Nós estamos a fazer um esforço e esse esforço está ligado à criação da Academia Cabo-Verdiana de Letras [Corsino é atualmente o presidente]. Nós encontramos um governo muito aberto com ótimas ideias e espero que toda essa conjugação dos esforços possibilitará a publicação e a difusão da literatura, porque há muita gente para publicar. Existe muita gente produzindo e escrevendo só não tem condições de publicação, mas estão sendo criadas condições neste sentido. Então, temos um governo que está muito interessado, só que não há dúvida nenhuma que eu e a Vera, ela como foi ministra da Educação e eu fui ministro da Justiça, sabemos das grandes dificuldades de Cabo Verde.
Por Jorge Filholini e Vinicius de Andrade
Conteúdo oferecido ao Por dentro da África após publicação no site Livre Opinião
O PROTESTO 1955 / 2O15. 60 ANOS do Poeta CARLOS DE ASSUMPÇÃO o mestre que completa 88 anos de muitos parabéns num sábado de muita luz 23 de maio glorioso que realça valoriza nossa luta a historia sempre viva do poeta guerreiro Cassump de Ébano como disse o herói poeta angolano Agostinho Neto.
CARLOS DE ASSUMPÇÃO seu nome esta realçado entre os maiores poetas do mundo e assim no Brasil nas principais obras da cultura afro brasileiro”A Mão Afro-Brasileira” Emanoel Araújo. “Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana” Nei Lopes. “Enciclopédia Quem é quem na negritude brasileira” Eduardo de Oliveira.Enciclopédia“África Mãe dos Gênios Negros Afros Brasileiros” Jorge J. Oliveira entre outras obras. Os Dizeres dos grandes mestres sobre Carlos Assumpção diz Abdias do Nascimento é o meu poeta, Solano Trindade Protesto é minha alma, Geraldo Filme me arrepia, Clovis Moura a lira de nossas revoltas, Barbosa sinto cada letra, Prof. Eduardo Oliveira minha inspiração, Luís Carlos da Vilaa alma da Kizomba,Tião Carreiro uma alegria triste, Milton Santos Diz tudo, Grande Otelo é o Poema Hino Nacional da luta da Consciência e Resistencia Negra Afro-brasileira.
CARLOS DE ASSUMPÇÃO – O maior poeta da militância negra da historia do Brasil autor do poema o PROTESTO Hino Nacional da luta da Consciência eResistencia Negra Afro-brasileira. O poetaAssumpção é o maior ícone das lideranças e dos movimentos negrose afros brasileiras e uma das maiores referencias do mundo dos ativistas e humanistasem celebração completa 88 anos de vida. CARLOS DE ASSUMPÇÃO nasceu 23 de maio de 1927 em Tiete – SP. Por graças e as benções de Olorum 88 anos de vida com sua família, amigos e nós da ORGANIZAÇÃO NEGRA NACIONAL QUILOMBO O. N. N. Q. FUNDADO 20/11/1970 (E diversas entidades e admiradores parabenizam o aniversario de 88 anos do mestre poeta negro Carlos Assumpção) temos a honra orgulho e satisfação de ligar para a histórica pessoa desejando felicidades, saúde e agradecer a Carlos de Assunpção pela sua obra gigante, em especial o poema escrito em 1955 o Protesto que para muitos é o maior e o mais significante poema dos afros brasileiros o Hino Nacional dos negros. “O Protesto” é o poema mais emblemático dos Afros Brasileiros e uns das América Negra, a escravidão em sua dor e as cicatrizes contemporâneas da inconsciência pragmática da alta sociedade permanente perversa no Poema “O Protesto” foi lançado 1958, na alegria do Brasil campeão de futebol, mas havia impropriedades e povo brasileiro era mal condicionado e hoje na Copa Mundial de Futebol no Brasil 2014 o poema “O Protesto” de Carlos de Assunpção está mais vivo com o povo na revolução para (Queda da Bas. Brasil.tilha) as manifestações reivindicatórias por justiça social econômica do povo brasileiro que desperta na reflexão do vivo protesto.
O mestre Milton Santos dizia os versos do Protesto e o discurso de Martin Luther King, Jr. em Washington, D.C., a capital dos Estados Unidos da América, em 28 de Agosto de 1963, após a Marcha para Washington. «I have a Dream» (Eu tenho um sonho) foram os dois maiores clamores pela liberdade, direitos, paz e justiça dos afros americanos. São centenas de jornalistas, críticos e intelectuais do Brasil e de todo mundo que elogia a (O Protesto) (Manifestação que é negra essência poderosa na transformação dos ideais do povo) obra enaltece com eloquência o divisor de águas inquestionável do racismo e cordialidade vigente do Brasil Mas a ditadura e o monopólio da mídia e manipulação das elites que dominam o Brasil censuram o poema Protesto de Carlos de Assunpção que é nosso protesto histórico e renasce e manifesta e congregam os negros e todos os oprimidos, injustiçados desta nação que faz a Copa do Mundo gastando bilhões para uma ilusão de um mês que poderá ser triste ou alegre para o povo brasileiro este mesmo que às vezes não tem ou economiza centavos para as necessidades básicas e até para sua sobrevivência e dos seus. No Brasil
.
Poema. Protesto de Carlos de Assunpção
Mesmo que voltem as costas
Às minhas palavras de fogo
Não pararei de gritar
Não pararei
Não pararei de gritar
Senhores
Eu fui enviado ao mundo
Para protestar
Mentiras ouropéis nada
Nada me fará calar
Senhores
Atrás do muro da noite
Sem que ninguém o perceba
Muitos dos meus ancestrais
Já mortos há muito tempo
Reúnem-se em minha casa
E nos pomos a conversar
Sobre coisas amargas
Sobre grilhões e correntes
Que no passado eram visíveis
Sobre grilhões e correntes
Que no presente são invisíveis
Invisíveis mas existentes
Nos braços no pensamento
Nos passos nos sonhos na vida
De cada um dos que vivem
Juntos comigo enjeitados da Pátria
Senhores
O sangue dos meus avós
Que corre nas minhas veias
São gritos de rebeldia
Um dia talvez alguém perguntará
Comovido ante meu sofrimento
Quem é que esta gritando
Quem é que lamenta assim
Quem é
E eu responderei
Sou eu irmão
Irmão tu me desconheces
Sou eu aquele que se tornara
Vitima dos homens
Sou eu aquele que sendo homem
Foi vendido pelos homens
Em leilões em praça pública
Que foi vendido ou trocado
Como instrumento qualquer
Sou eu aquele que plantara
Os canaviais e cafezais
E os regou com suor e sangue
Aquele que sustentou
Sobre os ombros negros e fortes
O progresso do País
O que sofrera mil torturas
O que chorara inutilmente
O que dera tudo o que tinha
E hoje em dia não tem nada
Mas hoje grito não é
Pelo que já se passou
Que se passou é passado
Meu coração já perdoou
Hoje grito meu irmão
É porque depois de tudo
A justiça não chegou
Sou eu quem grita sou eu
O enganado no passado
Preterido no presente
Sou eu quem grita sou eu
Sou eu meu irmão aquele
Que viveu na prisão
Que trabalhou na prisão
Que sofreu na prisão
Para que fosse construído
O alicerce da nação
O alicerce da nação
Tem as pedras dos meus braços
Tem a cal das minhas lágrima
Por isso a nação é triste
É muito grande mas triste
É entre tanta gente triste
Irmão sou eu o mais triste
A minha história é contada
Com tintas de amargura
Um dia sob ovações e rosas de alegria
Jogaram-me de repente
Da prisão em que me achava
Para uma prisão mais ampla
Foi um cavalo de Tróia
A liberdade que me deram
Havia serpentes futuras
Sob o manto do entusiasmo
Um dia jogaram-me de repente
Como bagaços de cana
Como palhas de café
Como coisa imprestável
Que não servia mais pra nada
Um dia jogaram-me de repente
Nas sarjetas da rua do desamparo
Sob ovações e rosas de alegria
Sempre sonhara com a liberdade
Mas a liberdade que me deram
Foi mais ilusão que liberdade
Irmão sou eu quem grita
Eu tenho fortes razões
Irmão sou eu quem grita
Tenho mais necessidade
De gritar que de respirar
Mas irmão fica sabendo
Piedade não é o que eu quero
Piedade não me interessa
Os fracos pedem piedade
Eu quero coisa melhor
Eu não quero mais viver
No porão da sociedade
Não quero ser marginal
Quero entrar em toda parte
Quero ser bem recebido
Basta de humilhações
Minh’alma já está cansada
Eu quero o sol que é de todos
Ou alcanço tudo o que eu quero
Ou gritarei a noite inteira
Como gritam os vulcões
Como gritam os vendavais
Como grita o mar
E nem a morte terá força
Para me fazer calar.
Organização Negra Nacional Quilombo ONNQ 20/11/1970 –
quilombonnq@bol.com.br