Congolinária: “Usamos a gastronomia para contar a nossa história”, diz Pitchou Luambo

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Divulgação

São Paulo – Em defesa da sua comunidade afetada pelos conflitos no norte da República Democrática do Congo, o ativista Pitchou Luambo foi perseguido e obrigado a deixar o seu país. Há sete anos no Brasil, o advogado congolês trabalhou em diferentes áreas até ter a ideia de apresentar, a partir da culinária, um pouco da história e cultura da sua terra natal.

Congolinária é a possibilidade de mostrar para as pessoas a história que os brasileiros desconhecem. Falamos da cultura africana (da congolesa, principalmente), da gastronomia, dos direitos dos animais, da situação dos refugiados… Os visitantes entram, comem e saem diferentes”, disse o congolês, em entrevista exclusiva ao Por dentro da África.

Localizado na cidade de São Paulo, o restaurante (agora fechado) fez um grande sucesso. A comida vegana que atraía brasileiros e congoleses fazia fila na porta, mas, no ano passado, o centro gastronômico que abrigava o projeto, fechou. Para dar continuidade ao Congolinária, Pitchou lançou uma campanha de financiamento coletivo no Catarse. Conheça mais e deixe a sua contribuição!

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Encontro para debater sobre o refúgio no Brasil – Arquivo Pessoal

Formado em direito pela Universidade de Kisangani, Pitchou usava a sua profissão para defender vítimas de violações de direitos humanos, principalmente mulheres abusadas sexualmente. Após perseguição, ele cruzou a fronteira da República Democrática do Congo para Uganda, onde ficou por um mês. Só depois veio para o Brasil, onde vive há sete anos como refugiado.

“O meu país vive em guerra há mais de 20 anos. Estamos muito vulneráveis, principalmente as mulheres. No norte, o estupro é usado como arma de guerra. Estupram as mulheres e crianças para espalhar o medo e tirar as pessoas de lá. Qualquer pessoa que trabalhe defendendo essas vítimas acaba se tornando alvo, assim como eu”, detalhou o advogado.

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Migração na República Democrática do Congo – Foto de ONU

Em uma terra rica em recursos minerais, a liberdade parece ser uma perspectiva que precisa ser nutrida. Segundo maior país da África, com cerca de 80 milhões habitantes, a República Democrática do Congo convive há duas décadas com uma violência que já deixou mais de seis milhões de mortos.

Saiba mais: “A nossa luta é pela paz e democracia”, afirma grupo de congeleses, em protesto no Rio de Janeiro

Pitchou tentou revalidar o seu diploma aqui, mas não teve êxito. Em São Paulo, trabalhou como professor de inglês e francês antes de organizar eventos culturais sobre o seu país e o continente africano.

“Percebemos que, aqui no Brasil, havia muito preconceito em relação à minha cultura, por isso criei uma campanha de sensibilização em defesa dos refugiados e, mais tarde, o Congolinária”, explicou.

congo6No início do projeto, o advogado percebeu que havia grande aceitação da comida congolesa. Ele lembra que muitos visitantes não sabiam que os ingredientes dos pratos servidos em seu restaurante poderiam ser encontrados tão perto.

“Achavam que tínhamos que ir até a África para pegar os alimentos… Temos tudo aqui! Tudo o que usamos para fazer a nossa comida, encontramos no Brasil. Unimos isso à defesa dos animais. Se defendemos os direitos humanos, é coerente defender também o direito dos animais”.

Alguns dos famosos pratos do cardápio são: sambusa (típico salgado congolês), couve na mwamba (refogado de couve servido com pasta de amendoim), pomme sautèe (batata temperada frita inteira), fufu (um tipo de polenta feita com farinha de mandioca fina e farinha de milho) e omomba (doce de biomassa de banana da terra com amendoim).

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“Essa comida é muito mais do que um alimento, está ligada à nossa cultura. Muitas dessas receitas eu aprendi com meus pais e avós. Temos um país com mais de 400 etnias. A partir da comida, conseguimos aproximar as pessoas”, disse o chef.

Pitchou tenta dar continuidade ao projeto a fim de estabelecer um local fixo para diversificar o cardápio e partilhar outros aspectos da cultura congolesa.

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