Autor de “Procura-se jovem negro para salvar o planeta” dedica venda do livro a projeto em Moçambique

0
478

Ribaué - Foto: Nuno Nóbrega - Divulgação Natalia da Luz – Por dentro da África

Rio – Um jovem negro é convocado para transformar a história do continente africano, que  caminha com as próprias pernas, descobrindo que elas são mais fortes do que o subsídio que, a contagotas, chega do outro lado do Atlântico. O título “Procura-se jovem negro para salvar o planeta” faz referência ao cotidiano da África Austral, que deve usar os seus próprios agentes e mentes para crescer rumo ao futuro.

– Eu acredito que somente o povo originalmente africano poderá traçar novos rumos para suas economias, e não será apenas com teorias da 3º Revolução Industrial que iremos impactar as cidades africanas, onde se quer as barreiras de água e esgoto foram resolvidas – conta em entrevista ao Por dentro da África Mario Mendes Junior, empresário e filósofo que, há 10 anos, investiga, pesquisa e se envolve com a África.

Ilha de Moçambique - Foto: Nuno Nóbrega - Divulgação Com passagens e pesquisas desenvolvidas em mais de dez países africanos como Angola, Moçambique, República Democrática do Congo, Botsuana, Gana e Zimbábue, Mario é um entusiasta do desenvolvimento africano, é um africanista que associa o empreendedorismo ao combustível que o continente de um bilhão de habitantes precisa para acelerar.

– O livro (que é ilustrado por Nuno Nóbrega) trata diretamente das mazelas do Brasil ao entorpecente estado de coisas na África que ora é apresentada como vencida, ora como vencedora. É um livro de transformação. Essa transformação em potencial que o continente africano possui, sobretudo a África Austral, é a matéria-prima deste trabalho, que trata das alternativas dos problemas africanos, que certamente servirão para o entendimento também das questões socioeconômicas latino-americanas – destacou o escritor que vai destinar toda a receita da venda do livro para o “Projeto Oceano”, na Ilha de Moçambique.

Incentivo ao Projeto Oceano 

Mario explica que se trata de um projeto educacional que trabalha com os alunos mais talentosos da região, a fim de prepará-los para as demandas da educação e do mercado de trabalho competitivo. De acordo com ele, para o desenvolvimento dessas atividades, a AZLera (organização que concentra empreendedores sociais) fornece um espaço fora da escola, onde os alunos podem debater as questões locais e internacionais, desenvolver habilidades de pensamento-chave de TI (Tecnologia da Informação), além de desfrutar de oportunidades extracurriculares, como esportes, arte e música.

– O segredo do sucesso nesse tipo de inovação educacional começa a acontecer quando, ao se destacar o pensamento crítico e estimular a capacidade intelectual de nossos alunos, pretende-se criar futuros líderes que estarão mais bem preparados para impulsionar sua comunidade e seu país e, finalmente, para ajudar a reduzir a pobreza em Moçambique – explica o paulista líder do Movimento Independente de Apoio aos Empreendedores dos Países de Língua Portuguesa no Brasil, Portugal, Angola e Moçambique.

Ações na Ilha de Moçambique 

Ilha de Moçambique - Foto: Nuno Nóbrega - Divulgação Ilha de Moçambique está situada na província de Nampula, na região norte de Moçambique. A região foi considerada pela UNESCO, em 1991, como Patrimônio Mundial da Humanidade.

Com cerca de 13 mil habitantes, a Ilha está dividida em duas partes, a “cidade de pedra” e a “cidade de macuti”, a primeira delas tem cerca de 400 edifícios, incluindo os principais monumentos, e a segunda, na metade sul da ilha, tem cerca de 1200 casas de construção precária. Centrada no comércio de escravos no século XIX, fatos como a independência do Brasil (em 1822) e a abolição da escravatura, contribuíram para a decadência da região.

Ilha de Moçambique - Foto: Mario Mendes - DivulgaçãoPela ilha, pode-se observar 500 anos de história em que Portugal aparece como um dos principais escritores. Na região, esteve instalada a capital do país até 1898, passando depois para Lourenço Marques (Maputo). Quando Vasco da Gama chegou, em 1498, a Ilha de Moçambique era uma povoação swahili (idioma de origem bantu com nativos de procedência da região costeira do Oceano Índico) de árabes e negros, subordinada ao sultão de Zanzibar. Por um longo período, ela continuou a ser frequentada por árabes que faziam negócios com o Mar Vermelho, a Pérsia, a Índia e as ilhas do Índico.

Além dos portugueses, outros concorrentes europeus apareceram na corrida pelo controle das rotas comerciais. Os franceses conseguiram assumir o papel de intermediários do negócio da escravatura para as ilhas do Índico, os ingleses começaram a controlar as rotas de navegação nesta região e os holandeses tentaram a ocupação da Ilha em 1607-1608 sem sucesso.

“E se Obama fosse africano?”

Na linha de pensamento positivista de Mario, Mia Couto, um dos mais influentes escritores africanos da atualidade, escreveu um artigo, que foi tema de livro, sobre a eleição histórica de Barack Obama. Para o moçambicano, a alegria que muitos africanos experimentaram no dia 5 de novembro de 2008 nasceu por eles investirem em Obama exatamente o oposto daquilo que conhecem de sua experiência com os seus próprios dirigentes.

Mapa de Moçambique – Por muito que nos custe admitir, apenas uma minoria de Estados africanos conhece dirigentes preocupados com o seu bem. Se há um modo verdadeiro de celebrar Obama nos países africanos é lutar para que mais bandeiras de esperança possam nascer aqui, no nosso continente. É lutar para que Obamas africanos possam também vencer. E, nós africanos de todas as etnias e raças, vencermos como esses Obamas para festejarmos em nossa casa aquilo que festejamos em casa alheia – diz o trecho do livro “E se Obama fosse africano, lançado em 2009.

O livro de Mario, escrito em três anos, apresenta uma linda exposição de fotos de todo o continente, abordando o sorriso do povo, nada de tristeza, pois é hora de começar a comemorar os avanços, como ele bem lembra.

Os meninos Miguel e Morais, na Ilha de Moçambique - Foto: Nuno Nóbrega - Divulgação Para o autor, Moçambique tem vivido uma democracia que vai se aprofundando em suas raízes, além de passar por reformas econômicas liberalizantes que criaram confiança nos mercados com um crescimento anual do PIB na casa dos 7%.

– Tenho amor e cuidado por todas as nações subsaarianas, porém, Moçambique é diferente, seguindo um modelo singular no compasso de sua inserção na ordem internacional do início deste século. Agências de risco internacionais, Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial têm positivado aos investidores estrangeiros motivos do bom desempenho político e pelo equilíbrio macroeconômico dessa nação africana pela qual cultivo tanta paixão.

Saiba mais sobre o projeto e como comprar o livro 

Por dentro da África