Coluna África em Verso: “Griot”, por Ed Mulato

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Imagem: Tall Papa Ibra

“G  r  i  o  t”

Ed Mulato

Na África, toda a história

reside só na memória

de Negros muito especiais:

nada se encontra nos livros,

nada, também, em arquivos,

nada em revista ou jornais…

“- Então, como saber do passado?”

“- …tudo está arquivado

nos mais antigos anais:

os ‘Griots‘, que em seus  monólogos,

escrevem estórias sem prólogos –

todas, estórias  reais.”

Quando um “griot” se apresenta,

é velho, é  moço, se senta

só para vê-lo atuar:

por que, por ali, a História

desfila, e se espalha na glória

do povo. E dos orixás.

“- É avó, ou criançada?

é só pó, ou é estrada?…”

… perguntas que voam ali;

representando, um só artista:

e a História, contada, conquista,

o povo, que veio assistir.

“- É sem dó, sem sentir nada?

é um nó, ou é espada?…”

pergunta o “griot” – e sorri.

“- … tem gente sumindo no nada,

tem gente sumindo espantada,

tem gente virando zumbi!”

Conta o “griot” o que sabe:

“- mas pouco se sabe, rapaz!”

Vira o corpo, vira a cara,

gira em volta, gira a vara

joga a capa, joga mais.

Sons esquisitos de mato quebrado…

Pergunta o “griot”, espantado:

“é só voz, ou animais?”

O “griot”, sumindo na trilha:

“ – É um só, ou é  matilha?

Será guerra ou será paz?”

Vozes, na mata fechada:

“-  será que vale a caçada?

será gente, será nada?”

perguntam, em bom português.

Cai o pano, acaba a cena:

cai a rede, que sem pena,

caça gente de outra tez.

É quando o “griot” enrijece e se cala;

… e quando um “griot” já não fala…

…a História se cala de vez.

Por dentro da África 

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