África em Crônica: Diário Africano

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Rio da Catumbela, Angola - Registro da leitora Yolanda Sousa — em Angola.
Rio da Catumbela, Angola – Registro da leitora Yolanda Sousa — em Angola.

 Por Gabriel Ambrósio, Por dentro da África 

Os nascimentos sem controle, aumento da corrupção e lavagem cerebral em todos os séculos, conformismo eterno e o desprezo da nossa realidade são cada vez mais frequentes. Nossa cultura clama por respeito, nossas crianças vivem com bocas viradas para cima das nuvens que não trazem além de furacões incompreendidos.

O diário se alimenta de notícias alegrantes, enquanto os choros nos musseques (favelas) entoam em toda África. Os filhos continuam a não ter fontes bebíveis com o de reconhecimento dos ancestrais. Qual das fontes que se orgulham além de poucos Diops, Obengas, Fortunatos, Gilzas, Luas, Luzes, Mbembe, Aminata Troares, Mudimbe, Keitas, Diemes, Aratuns, Kina Ngombo, Núbios, Kushi, entre outros e outras?

Em vésperas do dia da mãe África (25 de maio), o povo está na poeira: uns hospitalizados, outros trabalhando sem remuneração digna, muitos na seca, sem energia elétrica, sem consciência de si e autoestima. O valor de solidariedade já está se enterrando, a empatia fugindo da vida dos africanos.

Há muitas igrejas eurocêntricas, muitas bíblias que se traduzem em línguas africanas, mas sem o respeito aos rituais dos povos africanos, aos valores religiosos de sabor africano. Os líderes só exibem carros de luxo ao lado de lixo e águas paradas, ruas esburacadas. Restam os sorrisos das crianças que mantêm a expetativa de um futuro africano mais rico na prática.

Vivemos de dramas e maquiagens, escondendo a visão dos ativistas e humanistas que lutam pela dignidade e reconhecimento igualitário a todos os povos. Neste dia, não esqueçamos de repensar o projeto falhado da organização da unidade africana, aquela sonhada por Kruamah, Cabral, Fanon, Lumumba, Keita Modibo, Kenyatta, mestre Marcus Garvey, Malcolm X, Dubois e Tomas Sankara…

Nós africanos, keméticos e bantus, queremos lutar por nós mesmos, nas comunidades econômica, científica, espiritual ou cultura. Somos o resultado da afrocentricidade com olhar sério, sem piedade nem mitificação, estereótipos da nossa realidade.

Nada de chorar, mendigar todos os anos por doações vindas de organizações europeias, asiáticas ou americanas. Eliminem a corrupção, aumentem os investimentos na formação do humano, eliminem a elitização política, a discriminação de classes e distribuam os recursos dos povos de acordo as suas carências.