A juventude guineense e a necessidade de olhar para o futuro

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Foto: Bissau – Maria Virginia Yunes

Por Suleimane Alfa Bá, Por dentro da África

São Francisco do Conde – A história se repete. O período pós-independência na Guiné-Bissau foi abalizado pelo reflexo de crise político-estrutural que se ultrajou desde os momentos iniciais da era da colonização. Mais uma vez o povo guineense está sendo posto em segundo plano pelos seus governantes e, assim, sendo deixados a sua própria sorte.

Como é de conhecimento de todos, desde a abertura democrática, o país jamais teve um governo eleito que concluiu o seu mandato. Tais fatos contribuíram muito e fizeram com que até nos momentos atuais o país não consiga encontrar uma direção certa com vistas à busca de uma estabilidade sócio-política eficaz e duradoura.

Posto isto, surge a necessidade de a classe intelectual guineense e dos jovens fazermos uma revolução mental em prol da mudança de paradigma. O nosso país não carece de intelectuais jovens tanto quanto da parte dos mais velhos, mas carece de intelectuais com espírito patriótico, isto é, pessoas que, independentemente da posição e crenças,  coloquem, em primeiro lugar, a vontade popular e não os interesses pessoais.

É certo que temos intelectuais que colocam a Nação em primeiro plano e que defendem os interesses do povo, mas, os números não são encorajadores, por isso, necessitamos de mais pessoas com espírito patriótico.

O que temos vistos nos últimos meses em Bissau (Guiné-Bissau) demonstra claramente que é necessário que haja reformas, mas reformas não só nas Forças Armadas, mas, sim, na classe política também.  A experiência de certa forma não é o esperado, não foi boa e não está sendo.

No entanto, enquanto não houver indivíduos conhecedores da área (pessoas que entendam de política, que tenham conhecimentos acadêmicos sobre política) e não experiência obtida pela curiosidade e ousadia de tentar fazer política, torna-se cada vez mais difícil de sairmos de situações como a atual.

Ser um líder, um representante máximo de uma Nação ( presidente da republica) é ser um homem com capacidade de lidar com assuntos mais difíceis de resolver na base de diálogo com a finalidade de chegar a um consenso, – sem ser intolerante, orgulhoso até o ponto de não saber enxergar o sofrimento do seu próprio povo; –  mas que é capaz de resolver os assuntos mais complexas com a brio de um ser humano patriota.

Ele deve ser uma pessoa que tenha ideais genuinamente tolerantes, deve saber lidar com quem pensa de forma diferente, uma vez que os dois têm objetivos comuns ou deveriam ter quando se trata da busca de mecanismos que facilitam e contribuam para o desenvolvimento de uma nação.

Caros irmãos guineenses, o momento é de grande incerteza em relação às pessoas que sempre depositamos a nossa confiança para dirigir o destino do nosso país, mas também já é chegado a hora de mudarmos de paradigma. Convido-vos a fazer uma profunda reflexão sobre indivíduos que, no futuro, receberão o voto de confiança para nos liderar, repito “a experiência não foi boa e não está sendo”. Há quem diga que “a mesma água não corre duas vezes no mesmo rio”, mas, no nosso caso, isso sempre acontece.

Afirmo isso porque são sempre as mesma pessoas, das mesmas formações políticas e com os mesmos ideais (mas diferentes dos ideias de Amílcar Cabral) que sempre são titulares de órgãos públicos no nosso pais.

Portanto, surge a necessidade de mudarmos o rumo dessa história. A juventude guineense (nós) tem missão/tarefa com a sociedade guineense. Cada um de nós na sua área pode fazer a diferença e contribuir para que haja uma mudança de paradigma.

Suleimane Alfa Bá é estudante de ciências humanas pela Universidade de Integração Internacional da lusofonia Afro-Brasileira de São Francisco do Conde