‘Escrita e liberdade: O papel do escritor numa sociedade colonizada’

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Por João N’gola Trindade, Por dentro da África 

Luanda – Ao abordar a escrita como ato de reflexão sobre a realidade social no período colonial e de luta pela conquista da independência, estabelece-se um diálogo entre a História e a Literatura de Angola realçando-se o contributo prestado pelos escritores angolanos na libertação psico-cultural, política, e econômica do colonizado.

O autor debruça-se sobre a atividade jornalística e literária exercida por angolanos esclarecidos que através da palavra escrita contestavam a política colonial; a literatura subversiva e a literatura engajada serão analisadas no âmbito do confronto ideológico que opõe os colonizados aos colonizadores.

A escrita é analisada como um meio de comunicação por meio do qual se transpõem as barreiras colocadas pelas autoridades coloniais que impuseram a censura, por sinal uma das práticas que caracterizou o regime colonial português.

Introdução

O final do século XIX foi marcado pelo surgimento de um movimento cultural e político denominado pan-africanismo, criado por intelectuais afrodescendentes que refletiam em torno da situação do Homem Negro, discriminado na América e colonizado em África.

A libertação do africano do jugo colonial e o retorno dos afrodescendentes à África eram temas discutidos pelos participantes dos congressos pan-africanos que, por meio das obras que escreviam, procuravam consciencializar o mundo sobre o drama do africano.

Em 1910, Portugal conhece uma nova fase da sua História Política com o triunfo do republicanismo e do liberalismo que apregoava, entre outros, a liberdade que em Angola, e no Ultramar Português, em geral, era negada aos angolanos.

Como veremos mais adiante, estes dois momentos históricos irão exercer influência em Angola, através do exercício da atividade jornalística e literária pelos angolanos que encontraram na escrita e no papel o meio para a reivindicação dos seus direitos e a valorização da cultura angolana “coisificada” pelo regime colonial português.

Pretende-se deste modo refletir sobre a relação que se estabelece entre o homem e a escrita num contexto de restrição das liberdades e de censura imposta pelas autoridades coloniais em Angola no final da década de 50 do século XX.

Este período registrou a instalação da PIDE em Angola que, no contexto da luta anti- colonial, desenvolveu um conjunto de atividades repressivas que visavam a manutenção do domínio português na então colônia portuguesa.

Este clima de restrição das liberdades é constantemente recordado pelos entrevistados do projecto Angola nos Trilhos da Independência – documentário produzido pela Associação Tchiweka de Documentação cujo patrono é o nacionalista Lúcio Lara.

Por sua vez, os estudiosos do nacionalismo angolano e da Literatura Angolana, dos quais destacámos Pires Laranjeira, admitem a hipótese de que inexistência de um quadro legal favorável ao exercício das liberdades fundamentais terá motivado os angolanos a insurgirem-se primeiramente nos jornais – tradição iniciada no final do séc. XIX com continuidade no séc. XX.

No que diz respeito ainda às fontes escritas, a entrevista concedida pelo nacionalista Amadeu Amorim ao Semanário Novo Jornal, despertou-nos a atenção pelo facto de o entrevistado ter realçado o papel desempenhado pelos poetas angolanos, como Viriato da Cruz, Agostinho Neto, entre outros, no processo de afirmação da Literatura Angolana durante o período colonial.

Esta reflexão tem como ponto de partida o final do século XIX, período da emergência do protonacionalismo, e termina na segunda metade do século XX com a afirmação do nacionalismo angolano e a conquista da independência de Angola – fase de maturação de um processo marcado por rupturas e continuidades.

Leia o teto completo aqui – Escrita e liberdade