Por dentro da África
Maputo – Por conta de uma onda de xenofobia que atinge a África do Sul nos últimos meses (principalmente, nas últimas semanas), a Anistia Internacional chamou atenção do governo sul-africano afirmando que ele não está fazendo o suficiente para combater os ataques xenófobos no país.
Nesta terça-feira, o governo se comprometeu a proteger todos os que vivem no país – sejam eles sul-africanos ou estrangeiros. Nesta sexta-feira, o escritor moçambicano Mia Couto escreveu uma carta aberta ao presidente sul-africano.
Exmo. Senhor Presidente Jacob Zuma
Lembramo-nos de si em Maputo, nos anos oitenta, nesse tempo que passou como refugiado político em Moçambique. Frequentes vezes nos cruzamos na Avenida Julius Nyerere e saudávamo-nos com casual simpatia de vizinhos. Imaginei muitas vezes os temores que o senhor deveria sentir, na sua condição de perseguido pelo regime do apartheid. Imaginei os pesadelos que atravessaram as suas noites ao pensar nas emboscadas que congeminavam contra si e contra os seus companheiros de luta. Não me recordo, porém, de o ter visto com guarda costas. Na verdade, éramos nós, os moçambicanos, que servíamos de seu guarda-costas. Durante anos, demos-lhe mais do que um refúgio. Oferecemos-lhe uma casa e demos-lhe segurança à custa da nossa própria segurança. É impossível que se tenha esquecido desta generosidade.
Nós não a esquecemos. Talvez mais do que qualquer outra nação vizinha, Moçambique pagou caro POR esse apoio que demos à libertação da África do Sul. A frágil economia moçambicana foi golpeada. O nosso território foi invadido e bombardeado. Morreram moçambicanos em defesa dos seus irmãos do outro lado da fronteira. É que para nós, senhor Presidente, não havia fronteira, não havia nacionalidade. Éramos, uns e outros, irmãos de uma mesma causa e quando tombou o apartheid a nossa festa foi a mesma, de um e de outro lado da fronteira.
Durante séculos, emigrantes moçambicanos, mineiros e camponeses, trabalharam na vizinha África do Sul em condições que pouco se distinguiam da escravatura. Esses trabalhadores ajudaram a construir a economia sul-africana. Não há riqueza do seu país que não tenha o contributo dos que hoje são martirizados.
Por todas estas razões, não é possível imaginar o que se está a passar no seu país. Não é possível imaginar que esses mesmos irmãos sul-africanos nos tenham escolhido como alvo de ódio e perseguição. Não é possível que moçambicanos sejam perseguidos nas ruas da África do Sul com a mesma crueldade que os polícias do apartheid perseguiram os combatentes pela liberdade, dentro e fora de Moçambique. O pesadelo que vivemos é mais grave do que aquele que o visitava a si quando era perseguido político. Porque o senhor era vítima de uma escolha, de um ideal que abraçou. Mas os que hoje são perseguidos no seu país são culpados apenas de serem de outra nacionalidade. O seu único crime é serem moçambicanos. O seu único delito é não serem sul-africanos.
Senhor Presidente
A xenofobia que se manifesta hoje na África do Sul não é apenas um atentado bárbaro e cobarde contra os “outros”. É uma agressão contra a própria África do Sul. É um atentado contra a “Rainbow Nation” que os sul-africanos orgulhosamente proclamaram há uma dezena de anos. Alguns sul-africanos estão a manchar o nome da sua pátria. Estão a atacar o sentimento de gratidão e solidariedade entre as nações e os povos. É triste que o seu país seja hoje notícia em todo o mundo por tão desumanas razões.
É certo que medidas estão a ser tomadas. Mas elas mostram-se insuficientes e, sobretudo, pecam por serem tardias. Os governantes sul-africanos podem argumentar tudo menos que estas manifestações os tomou se surpresa. Deixou-se, mais uma vez, que tudo se repetisse. Assistiu-se com impunidade a vozes que disseminavam o ódio. É por isso que nos juntamos à indignação dos nossos compatriotas moçambicanos e lhe pedimos: ponha imediatamente cobro a esta situação que é um fogo que se pode alastrar a toda a região, com sentimentos de vingança a serem criados para além das suas fronteiras. São precisas medidas duras, imediatas e totais que podem incluir a mobilização de forças do exército. Afinal, é a própria África do Sul que está a ser atacada. O Senhor Presidente sabe, melhor do que nós, que ações policiais podem conter este crime mas, no contexto atual, é preciso tomar outras medidas de prevenção. Para que nunca mais se repitam estes criminosos eventos.
Para isso urge tomar medidas numa outra dimensão, medidas que funcionam a longo prazo. São urgentes medidas de educação cívica, de exaltação de um passado recente em que estivemos tão próximos. É preciso recriar os sentimentos solidários entre os nossos povos e resgatar a memória de um tempo de lutas partilhadas. Como artistas e fazedores de cultura e de valores sociais, estamos disponíveis para de enfrentar juntos com artistas sul-africanos este novo desafio, unindo-nos às inúmeras manifestações de repúdio que nascem na sociedade sul-africana. Podemos ainda reverter esta dor e esta vergonha em algo que traduza a nobreza e dignidade dos nossos povos e das nossas nações. Como artistas e escritores queremos declarar a nossa disponibilidade para apoiar a construção de uma vizinhança que não nasce da geografia mas de um parentesco que é da alma comum e da história partilhada.
Maputo, 17 de Abril de 2015
Mia Couto
Presidente da Fundação Fernando Leite Couto
Os negros da África do Sul, deveria era lutar contra os brancos ricos, que ganham mais e tem bons empregos- no seu próprio país. Não contra africanos negros moçambicanos. Vergonha.
É, pois, difícil um povo inculto lembrar o passado desse idiota Presidente Jacob Zuma, quando morou em Moçambique. Dizem que Jacob é um corrupto, bígamos e leviano. Na verdade os africanos estão desiludidos com seu país. Imaginavam que com a chegada dos negros ao poder a África do Sul tornar-se-ia um paraíso. Lego engano. Os brancos entregaram só o governo – Foi parte do acordo. As fábricas, as minas de diamantes, quase todas riquezas continuam nas mãos do brancos. Verdade sim, o rendimento de um sul-africano branco é seis vezes superior ao de um sul-africano negro, revelou o censo à população cujos resultados foram divulgados esta terça-feira. O censo mostrou que, na última década, os rendimentos dos negros aumentou 170% e, ainda assim, são os que menos ganham no país. O Presidente Jacob Zuma disse que passados 18 anos depois do fim do apartheid (acabou e 1994, antes só a minoria branca governava a África do Sul), o negro sul-africano continua em último lugar.
O rendimento médio anual de uma família branca é de 365 mil rands (perto dos 32 mil euros). A seguir na tabela surgem os sul-africanos de origem mista (251 mil e 500 rands), os de origem indiana (250 mil randes) e os negros surgem com um rendimento médio por família de 60 mil e 600 randes (cerca de 5500 euros).
Lida seja a carta pelo Rei Zulu e pelo Presidente Zuma.