Boa notícia na luta contra o ebola na República Democrática do Congo

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Unicef/Tremeau
Zona de tratamento do ebola na província do Kivu Norte, na República Democrática do Congo.

Por Gerson Brandão, Por dentro da África 

Com apenas seis novos casos confirmados durante a segunda semana de novembro, especialistas da área de saúde já se sentem confiantes em dizer que o surto, que atualmente afeta as províncias do Kivu do Norte e Ituri, começa a entrar em declínio. É importante lembrar que esses seis últimos casos resultaram do processo chamado ‘transmissão local’, quando o paciente entra em contato direto com outro doente.

Durante a semana passada, os centros de saúde das cidades de Kalungata e Katwa, também em Kivu do Norte, relataram 21 e 42 dias, respectivamente, sem novos casos confirmados. Paralelamente ao declínio constante do número de casos, outros indicadores são bastante encorajadores.

Pela primeira vez, a Organização Mundial da Saúde (OMS) pré-qualificou uma vacina, conhecida como rVSV-ZEBOV, contra o ebola. Uma medida que, segundo a agência da ONU “constitui um passo decisivo para acelerar o registro, a acessibilidade e a introdução de um remédio eficaz nos países mais expostos a surtos da doença”.

De acordo com profissionais da Médicos sem Fronteiras, uma das organizações qualificadas para ministrar o tratamento, os primeiros resultados mostram que a vacina oferece uma proteção efetiva a 95%[1] dos pacientes após dez dias.

Este foi um passo histórico para garantir que aqueles que mais precisam tenham acesso a uma vacina que salva vidas. Com a chegada de uma vacina pré-qualificada e tratamentos experimentais, a doença agora pode se tornar evitável e os pacientes podem ser tratados mais rapidamente.

Leia também: Vacina contra o ebola é aprovada 

Vacinação contra o ebola na República Democrática do Congo – Foto de OMS

Declarada em 1 de agosto de 2018, esta epidemia de ebola na República Democrática do Congo já matou 2.195 pessoas e é a mais mortal de todas as 10 epidemias já declaradas no país. Ao mesmo tempo, 1.070 pessoas foram curadas até o final de outubro deste ano sendo o número de casos acumulados em 16 de novembro de 3.292, dos quais 3.174 confirmados e 118 prováveis.

Esta mesma epidemia foi declarada como “emergência global” em 17 de julho de 2019, um ato, que entre outras coisas, permitiu que as organizações envolvidas na assistência às vítimas pudessem mobilizar recursos mais rapidamente.

No entanto, ainda há preocupações, quanto a transferência de casos confirmados na cidade de Mabalako, em Kivu do Norte. A Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que a transmissão do vírus persiste em algumas cidades do Ituri, devido às dificuldades de segurança para acessar as comunidades.

Um longo processo de recuperação

A epidemia de ebola enfraqueceu drasticamente um sistema de saúde que já funcionava de maneira extremamente precária antes de agosto de 2018. Nos últimos meses, muitos profissionais de saúde foram mobilizados para a resposta contra o vírus, sobretudo graças aos recursos obtidos junto à comunidade internacional.

Por outro lado, esses recursos deixarão de existir no momento em que a epidemia estiver sob controle, o que produz uma nuvem de incertezas sobre quanto tempo será necessário até que uma nova calamidade sanitária seja anunciada no país.

Enquanto isso, além dos desafios relacionados a um sistema de saúde muito fragilizado, as crianças precisarão retornar à escola, os pais e os sobreviventes precisarão de um trabalho para ter uma vida decente e serão necessárias medidas para melhorar os sistemas de esgoto e de coleta do lixo, por exemplo.

O centro de tratamento do ebola em Mangina, a 30 km a nordeste da cidade de Beni / Rádio Okapi / Ph. Marcial Papy Mukeba

Assim como o acesso à água potável, não são poucos os desafios que poderiam ser superados se houvesse um maior apoio de empresas privadas que até agora são, infelizmente, apenas um participante menor na resposta que está sendo implementada contra essa epidemia.

Assim sendo, no momento em que a situação começa a apresentar melhoras e que a epidemia se aproxima do fim, é indispensável pensar em medidas sustentáveis de reconstrução, que levem também em conta o papel a ser desempenhado por empresas privadas, que devem se juntar ao governo e às organizações internacionais na tarefa de construir um novo país com indicadores sociais mais elevados.

  • Gerson Brandão é encarregado de assuntos humanitários da ONU, mestre em Direitos Humanos pela Universidade de Estrasburgo e atualmente pesquisa “sobre o papel das empresas privadas na proteção de civis na Republica Democrática do Congo”.

[1] https://msf.lu/fr/actualites/toutes-les-actualites/rdc-vaccination-contre-ebola-les-defis-pour-contenir-lepidemie-a