“A paz não sobe a favela!”, por Fabiana Gelard

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Foto: Morro de Santa Tereza – Wikipedia

(Versos de crítica à morte do menino Herinaldo, assassinado no Rio de Janeiro em uma ação da polícia no morro do Caju e à política de pacificação nas comunidades) 

Por Fabiana Gelard, Por dentro da África 

A paz não sobe a favela!

A paz é falsa,

travestida de boas intensões

caminha no asfalto pelas brancas mãos daqueles que

marcham contra a violência!

Contra que violência?

A violência visita nossas casas, arromba nossas portas,

surge nos pratos vazios à mesa do jantar!

A paz tá no asfalto, nos casarões, na mesa farta, na tv, nas igrejas…

A paz não sobe a favela!

É bonitinha demais pra olhar para nós!

A paz tem cor, é BRANCA!  Alva feito as vestes de uma noiva

A violência rasga meu âmago, leva meus filhos, leva o futuro pra longe de nós!

Paz… Pacificador… Pacifica a dor!

A paz é mentirosa! Diz estar nas favelas, mas não a vejo…

Não a sinto…

A paz não sobre a favela!

A paz no asfalto marcha, brada, luta!

A paz na  favela  mancha suas vestes de sangue, esbofeteia a cara do trabalhador!

A violência não mente! A violência não escolhe gente!

Violência… Paz… Paz… Violência…

Na favela ambas se confundem!  Ambas se completam!

A violência tem cor

Na favela a violência é usada para garantir a paz do asfalto!

A paz é branca! A favela não!

A paz é bonita! A favela não!

Paz… Pacificador… Pacifica a dor…

A paz…

A paz não sobe a favela!

Fabiana Gelard é aluna da UNILAB, campus do Malês (São Francisco do Conde)