Idioma iorubá é declarado patrimônio imaterial do Rio de Janeiro

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Casa de Pai Anderson – Natalia da Luz – UNIC Rio

Por dentro da África

Em 28 de agosto, foi sancionada a Lei 8085 que declarou o idioma iorubá patrimônio imaterial do estado do Rio de Janeiro. Encaminhado à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro pela Associação Nacional de Mídia Afro, a proposta de tombamento surgiu em 2014.

“Nós entendemos que o idioma ioruba é muito mais do que uma língua de comunicação formal, é muito mais do que uma interlocução interpessoal, é, sobretudo, o que é falado dentro das comunidades religiosas”, disse ao Por dentro da África, o babalaorixá Marcio de Jagun, que acompanhou todo o processo de aprovação do documento.

De acordo com o IPHAN, os bens culturais de natureza imaterial dizem respeito às práticas e domínios da vida social que se manifestam em saberes, ofícios e modos de fazer; celebrações; formas de expressão cênicas, plásticas, musicais ou lúdicas; e nos lugares (como mercados, feiras e santuários que abrigam práticas culturais coletivas).

“O iorubá, em uma dimensão mais ampla, é um fator de comunicação entre homens e deuses. Cânticos, provérbios e louvações são secularmente invocados através desse idioma. No Brasil, o iorubá ganha importância porque não faz só comunicação, é um fator de resistência. Falar iorubá é resistir”, lembra o pesquisador que escreveu o primeiro vocábulo do candomblé em iorubá – português.

Ligação entre Brasil e o continente africano 

A ligação entre o Brasil e o continente africano abrange muitos aspectos. As religiões de matrizes africanas são parte importante desta riqueza. Devido a essa influência, muitas palavras presentes no cotidiano do brasileiro são de língua iorubá, falada no sudoeste da África, principalmente, na Nigéria. A necessidade de aprender mais sobre esse elo de formação da nossa sociedade foi o grande motivador para o desenvolvimento de um vocábulo iorubá para o português.

“A gente buscou trazer para o livro um descortinar do idioma. Não simplesmente um significado gramatical, mas filosófico. Não apenas dizer que água significa “omi” , mas o que a água é dentro da filosofia iorubá, qual a percepção acerca desse elemento da natureza – conta o professor autor do livro “Yorubá: Vocábulo temático do Candomblé”, lançado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Leia a reportagem aqui 

Marcio lembra que o idioma é pauta no curso de Letras da Universidade Federal Fluminense. Há dois anos ele dá aulas na instituição aprofundando a gramatica, a cultura e a história do iorubá.

“Ninguém compra sorvete falando iorubá. A pessoa aprende iorubá para fazer valer o entendimento entre homens, deuses e uma comunidade de resistência. Isso foi determinante para fazer reconhecer o ioruba como patrimônio do nosso estado.”