Carnaval 2015: Moçambique será homenageado no carnaval de São Paulo

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Natalia da Luz, Por dentro da África  logo_fundocor2

Rio – Um pouco da história de um país banhado pelo Oceano Índico e repleto de semelhanças com o Brasil vai desembarcar no Anhembi, passarela do samba da cidade de São Paulo. Com o samba-enredo “Moçambique – A lendária terra do Baobá sagrado!”, a escola Nenê de Vila Matilde vai brindar o país africano.

– A homenagem aos países africanos é sempre uma forma de exaltarmos nossas raízes. A ideia de falar sobre Moçambique surgiu em função das recentes datas comemorativas vividas pelo país e por conta do seu desenvolvimento – contou ao Por dentro da África Lúcia Helena da Silva, diretora de carnaval da Nenê de Vila Matilde.

mz mapaCom cerca de 25 milhões de habitantes, Moçambique é um país localizado no sudeste da África, que faz fronteira com a Tanzânia, Malawi, Zâmbia, Zimbábue, Suazilândia e África do Sul. O país é rico em recursos minerais e a sua economia é baseada na agricultura. Desde 2001, a taxa média de crescimento econômico anual do PIB moçambicano (cerca de 8%), segundo o Banco Mundial, tem sido uma das mais altas do mundo.

No primeiro carro, o baobá (também conhecido como embondeiro) aparecerá cercado por um grupo de crianças. Protegidas pela sombra da árvore, que é parte da identidade de muitos países africanos, elas observam os ensinamentos de um velho contador de histórias. Em seguida, será apresentada uma série de referências que construíram a história do país.

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baoba sagrado
Baobá sagrado no Senegal – Divulgação

Entre os séculos I e V, povos de língua bantu ou banto (grupo etnolinguístico localizado principalmente na África Subsaariana e que engloba cerca de 400 subgrupos étnicos diferentes) migraram do norte e oeste, formando a cultura da região onde o navegador português Vasco da Gama desembarcou no ano de 1498.

– A proposta é narrar a trajetória de Moçambique ao longo dos tempos , invasões, domínios, desafios enfrentados, cultura e crenças. Por fim, chegar aos dias de hoje , quando são considerados leões da tecnologia – ressaltou Lúcia em relação ao samba-enredo composto por Rose Rocha e Sérgio Mostarda.

Nenê de Vila Matilde 

Foto: Nenê de Vila Matilde – divulgação

A última escola a desfilar na sexta-feira, dia 13 de fevereiro, foi fundada em 1949 por Seu Nenê, que foi presidente da escola por 47 anos. A Nenê possui 11 títulos do carnaval de São Paulo, entre eles dois tricampeonatos. Até 2000 ela foi a escola com mais títulos do carnaval da capital de São Paulo.

As cores da escola são o azul e o branco, e o símbolo principal é a águia, que passou a ser utilizada na década de 80. No pavilhão oficial, a águia carrega um pandeiro, que também pode ser considerado um símbolo da escola.

Moçambique na avenida  

Ouro, madeira e marfim em abundância serão mostrados, relembrando as primeiras atividades comerciais do país e destacando a história de dois grupos: os Monomotapas (que exploravam, principalmente, as minas de ouro do interior) e os Suawilis (que eram ligados ao comércio litorâneo). O Império Monomotapa floresceu entre os séculos XV e XVIII na região sul do rio Zambeze, entre o planalto do Zimbábue e o Oceano Índico, onde hoje estão Moçambique e Zimbábue.

Foto: Nenê de Vila Matilde – Divulgação

As invasões territoriais serão relembradas com a chegada de um povo que partiu do deserto, levando na bagagem uma nova cultura para a África Oriental. Os árabes difundiram a religião e, por um longo período, dominaram o comércio no litoral moçambicano, que era um grande mercado a céu aberto.

Na descrição do samba-enredo, menciona-se que chegaram tapetes persas, miçangas de pérolas azuis, vasos e pratos de porcelana, tecidos de cores vivas e perfumes em frascos de cristais. Em troca, foi levado o ouro, o marfim e a mão de obra moçambicana que serviu à escravidão. Em seguida, vieram os espanhóis; depois, os portugueses, que implantaram a colonização até 1975, quando o país ganhou independência.

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Teresa Cotrim | Máscara do Mapico

Na ala 14, o ritual de iniciação também será lembrado junto com as máscaras Mapiko, que têm simbolismo religioso e cerimonial, ligado ao ritual de iniciação masculina. 

Em seguida, as capulanas levarão cor para a avenida. O pano tradicionalmente é usado pelas mulheres para cobrir o corpo, a cabeça, a mesa. Ele faz parte do cenário e da cultura de Moçambique.  

Foto: Gorongosa.org

Turismo em Moçambique

Abalado pela guerra civil (1981 – 1994), o Parque Nacional da Gorongosa ressurge com vida e se mostra como uma grande atração para quem cruza mares ao encontro de Moçambique.

Com mais de 2 mil quilômetros de litoral, o país tem enorme potencial turísticoNa avenida, o turismo e o desenvolvimento do país aparecerão no final do desfile indicando a perspectiva de um futuro promissor.

Aprenda a letra abaixo:

Amanheceu, resplandeceu, outra vez clareou
Eu sou raiz do povo banto
Presente que o tempo ofertou
Sabedoria, legado dos meus ancestrais
Trago um “eldorado” de riquezas naturais
História singular, guerreira ao despertar
Sagrado… meu nome é baobá

O mar virou… mareia
Ao longe ouço o cantar… sereia
Eu vi chegar o invasor
Dragões e filhos de alah
Demônios de além mar

Testemunhas de batalhas, resistência
Eu não me curvo jamais
Liberdade, veio a independência
Um forte laço se faz
Hoje a savana renasce e a vida floresce nos braços da paz
Pérola do Índico, terra de encantos e magia
Surge o “leão da tecnologia”, vejo um futuro promissor
Espírito ancestral, eu vim pro carnaval
Trazendo o sorriso dessa gente
Minha águia espalha essa semente

Bate o tambor do meu samba, surdo, tarol e repique
A vila hoje canta moçambique
Vem bateria de bamba, quem esperou pra me ver
Chegou nenê

Ficha técnica

Tema: Moçambique – A Lendária terra do Baobá sagrado!
Carnavalesco: Pedro Alexandre
Diretor de Carnaval: Lucia Helena
Diretor de Harmonia: Marcio Telles
Intérprete: Agnaldo Amaral
Mestre de Bateria: Marco Antonio David
Mestre-Sala: Jefferson Gomes
Porta-Bandeira: Janny Moreno
Comissão de Frente: Marcio Telles e Nildo Jaffer
Rainha de Bateria: Ariellen Domiciano

Por dentro da África